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Teatro Zé Maria Santos recebe festival com oito interpretações de "Ilíada" e "Odisseia"
"Ilíada" e "Odisseia" são os registros mais antigos da língua grega em alfabeto fonético (século VIII a.C.) e constituem os textos que iniciam a l...
29/07/2025 10h40
Por: Redação Fonte: Secom Paraná

O Festival Homero Curitiba 2025 é uma das atrações do Teatro José Maria Santos em agosto.. A mostra da Cia Iliadahomero de Teatro se estende por duas semanas, de 14 a 24 de agosto, quinta a sábado, com espetáculos às 20h; e nos domingos às 19h.

Na primeira semana serão apresentados os espetáculos: "Canto 12 da Ilíada", com Maureen Miranda, atriz, escritora e artista visual residente no Rio de Janeiro, acompanhada pelo músico e compositor Neco Yaros; "Canto 16 da Odisseia", com Raquel Rizzo, atriz de teatro e cinema, residente em Curitiba; "Canto 5 da Odisseia", com Fernando Marés, ator e cenógrafo residente em Florianópolis; e o "Canto 1 da Ilíada", com Jonatas Medeiros, ator e intérprete de Libras, acompanhado pela narração do texto em português, por Fernando Marés.

Na segunda semana a mostra segue com o "Canto 13 da Odisseia", com Pedro Inoue, ator de teatro e cinema residente em São Paulo; o "Canto 18 da Ilíada", com Letícia Guimarães, atriz e diretora de teatro; o "Canto 3 da Ilíada", com Lourinelson Vladmir, ator de teatro e cinema residente no Rio de Janeiro; e o "Canto 16 da Ilíada", com Richard Rebelo, ator e diretor de teatro residente em Curitiba. Todos os espetáculos contam com iluminação de Beto Bruel, cenografia de Fernando Marés e direção de Octavio Camargo.

A Cia Iliadahomero tem se destacado pela sua ação continuada há mais de 25 anos na performance teatral dos poemas de Homero, sem cortes ou edições, na primeira tradução completa para o português, realizada por Manoel Odorico Mendes. A companhia conta em seu histórico de apresentações com centenas de espetáculos, entre mostras e festivais no Brasil e no Exterior, sendo a única companhia brasileira dedicada à encenação integral da obra de Homero.

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"Ilíada" e "Odisseia" são os registros mais antigos da língua grega em alfabeto fonético (século VIII a.C.) e constituem os textos que iniciam a literatura ocidental. A recitação contínua dos poemas de Homero foi institucionalizada em Atenas no Festival das Panateneias, no século VI a.C., como rito cívico em honra a deusa padroeira da cidade e constituiu-se na principal política pública de educação no período clássico. Ainda hoje os poemas de Homero integram a base curricular das escolas e universidades, sendo de interesse multidisciplinar em diversas áreas do conhecimento.

Serviço:

Festival Homero Curitiba 2025

Data: de 14 a 24 de agosto (quinta-feira a domingo) - sessão em LIBRAS no domingo (17/08)

Quinta a sábado, às 20h

Domingo, às 19h

Local: Teatro José Maria Santos - R. Treze de Maio, 655 - São Francisco, Curitiba (PR)

Tempo de duração do espetáculo: 1h30

Classificação etária: 12 anos

Especificações do espetáculo: Teatro

Ingressos: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia-entrada)

Venda de ingressos: DiskIngressos ou 1 hora antes das sessões, na bilheteria do Teatro

PROGRAMAÇÃO COMPLETA:

14/08 (quinta, 20h) – Maureen Miranda, Ilíada, "Canto 12": o Canto 12 da Ilíada narra a tentativa dos troianos de invadir o acampamento dos gregos, atravessando o fosso e rompendo a paliçada que os protege. A cena é marcada por presságios e advertências: um pássaro deixa cair uma serpente das garras, o que leva Polidamas a aconselhar cautela — conselho que Heitor ignora com arrogância. É nesse clima de tensão que se destacam os lápitas Leonteu e Polipetes, guerreiros gigantes que, com armas de massa e força descomunal, defendem o muro grego sem o auxílio divino. O canto reforça o tema central de que toda construção humana, quando não consagrada aos deuses, está fadada à ruína, como o próprio muro grego, que será destruído pelas águas. A atriz Maureen Miranda dá voz a este episódio repleto de força e simbolismo. Com vasta carreira no teatro, cinema e televisão, ela é também escritora, artista visual e curadora do espaço A Container, na Ilha da Gigóia, no Rio de Janeiro.

15/08 (sexta, 20h) – Raquel Rizzo, Odisséia, "Canto 16": o "Canto 16 da Odisseia" traz um dos momentos mais comoventes do épico: o reencontro entre Ulisses e seu filho Telêmaco, após vinte anos de separação. Disfarçado de mendigo, o herói retorna a Ítaca sem ser reconhecido nem por Eumeu, seu fiel porqueiro, nem por outros membros da casa. O reconhecimento do pai e do filho ocorre aos poucos, num crescendo emocional que culmina na elaboração de um plano conjunto para retomar o trono e restaurar a ordem na ilha. É um canto marcado pela contenção, pelo afeto contido e pela esperança da restituição. Raquel Rizzo interpreta essa passagem com delicadeza e vigor. Atriz e pesquisadora com trajetória em teatro clássico e contemporâneo, Raquel incorpora a tensão emocional entre os personagens com sensibilidade, valorizando o silêncio e o gesto como potências expressivas. Sua leitura enfatiza os laços familiares e a sabedoria estratégica do herói no momento de retorno, onde o tempo é crucial.

16/08 (sábado, 20h) – Fernando Marés, Odisséia, "Canto 5": o "Canto 5 da Odisseia" narra o início do retorno de Ulisses à sua terra natal, Ítaca, após anos de aventuras e cativeiro em função do ódio de Netuno, pelo fato de Ulisses ter furado o único olho de seu filho Polifemo, o Ciclope. Vivendo por 8 anos na ilha de Calipso, onde é mantido pela ninfa, Ulisses finalmente recebe dos deuses a permissão para partir. Ele constrói sozinho uma jangada e se lança ao mar, enfrentando tempestades desencadeadas por Netuno. Este canto é exemplar na tradição da literatura de viagem e aventura, apresentando o herói em sua forma mais frágil e determinada: um homem em luta solitária contra as forças da natureza. Fernando Marés interpreta este episódio fundamental da Odisseia com ênfase na audácia do personagem. Ator com longa trajetória no teatro, tanto na cenografia, agraciado com prêmio Shell, como na interpretação, imprime à performance a cadência de um naufrágio, mesclando tensão corporal e introspecção poética.

17/08 (domingo, 19h) – Jonatas Medeiros, Ilíada em Libras, "Canto 1": o "Canto 1 da Ilíada" marca o início do conflito entre Aquiles e Agamêmnon, que terá desdobramentos trágicos ao longo de todo o poema. Crises, sacerdote de Apolo, pede a restituição de sua filha, Criseida, capturada pelos gregos, mas é desprezado por Agamêmnon. Apolo, em resposta, envia uma praga devastadora ao exército aqueu. Aquiles, ultrajado, se retira da guerra, dando início à sua célebre ira. A cena final se desenrola no Olimpo, onde Tétis, mãe de Aquiles, roga a Zeus que favoreça os troianos como vingança, selando o destino do conflito. A performance em Libras deste canto, conduzida por Jonatas Medeiros com narração em português de Fernando Marés, tem direção de Rafaela Hoebel em parceria com Octavio Camargo. Fruto de dez anos de pesquisa e criação coletiva com a comunidade surda, o trabalho explora a poesia épica por meio da linguagem gestual, revelando sua potência visual e rítmica. Trata-se de uma das primeiras adaptações integrais da Ilíada para Libras, expandindo os horizontes da oralidade épica para outras formas de expressão corpórea.

20/08 (quinta, 20h) – Pedro Inoue, Odisséia, Canto 13: o "Canto 13 da Odisseia" descreve o retorno de Ulisses a Ítaca, sua terra natal, após a hospitalidade recebida pelos Feácios. Enquanto dorme, ele é transportado em segurança para a ilha, juntamente com os tesouros que lhe foram ofertados. Ao despertar, não reconhece de imediato o lugar, mas é auxiliado pela deusa Atena, que o aconselha sobre como retomar o trono e lidar com os pretendentes de Penélope. É um canto de reconhecimento, disfarce e estratégia, marcando o início da fase final da jornada do herói. Pedro Inoue interpreta este momento com sensibilidade e inteligência cênica. Mais jovem ator do festival, ele iniciou sua preparação durante a pandemia, o que, segundo ele, reforça a simbologia do retorno e da redescoberta presente no canto. Sua performance valoriza o silêncio do herói diante da terra reencontrada e o peso das escolhas que ainda o aguardam.

21/08 (sexta, 20h) – Letícia Guimarães, Ilíada, "Canto 18": o "Canto 18 da Ilíada" acompanha Aquiles ao receber a notícia da morte de seu amigo Patroclo. Profundamente abalado, o herói lamenta sua ausência no campo de batalha e decide voltar a combater. Sua mãe, Tétis, sobe ao Olimpo para pedir a Vulcano que forje novas armas para o filho. Neste canto, encontra-se a famosa descrição do escudo de Aquiles, representado como uma miniatura do mundo grego, com cidades, campos, festas, batalhas e justiça, simbolizando a totalidade da existência. Letícia Guimarães interpreta este episódio com força emocional e riqueza simbólica. Fundadora da Cia do Abração, a atriz reflete sobre o desafio de representar a Ilíada como uma batalha cultural e íntima. Em suas palavras, “honra e luta” definem sua relação com o texto homérico.

23/08 (sábado 20h) – Lourinelson Vladmir, Ilíada, "Canto 3": o "Canto 3 da Ilíada" narra o duelo entre Páris e Menelau e marca uma transição importante no desenrolar da trama. Diante do avanço dos exércitos troianos e aqueus, Páris (Alexandre), príncipe de Troia, propõe um combate singular com Menelau, marido de Helena, para pôr fim à guerra. Ao ver Páris se vangloriando na linha de frente, Menelau prontamente aceita o desafio, desejoso de vingança. Os dois exércitos fazem uma trégua, sacrificam cordeiros e juram respeitar o resultado do duelo, enquanto Helena, do alto das muralhas, observa a cena ao lado de Príamo e descreve os heróis gregos com pesar e nostalgia.Quando o combate começa, Páris é quase derrotado por Menelau. No momento decisivo, quando o troiano está prestes a morrer, a deusa Vênus intervém e o retira do campo de batalha, transportando-o magicamente para o leito conjugal com Helena. O canto termina com Helena sendo compelida por Vênus a deitar-se com Páris, em um gesto que enfatiza o poder coercitivo do desejo dos deuses sobre os destinos humanos. Lourinelson Vladmir, nascido em Curitiba e residente no Rio de Janeiro, desenvolve o ousado projeto de decorar e recitar a Ilíada inteira. É um trabalho em processo e que pode ser acompanhado pelo público em seus ensaios abertos nos jardins do Palacio do Catete, atual Museu da República, no Rio de Janeiro. Integra a Cia Ilíadahomero desde sua fundação, em 1999, interpretando o Canto 3. Ator de teatro, cinema e televisão. Seu último trabalho no cinema foi no filme “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 2025.

24/08 (domingo 19h) – Richard Rebelo, Ilíada, "Canto 16": o "Canto 16 da Ilíada" apresenta a célebre “aristéia de Patroclo”, sequência em que o amigo de Aquiles entra em combate usando suas armas. Aquiles ainda recusa-se a lutar, mas permite que Patroclo combata em seu nome. O jovem guerreiro avança com bravura, derrota Sarpedon, filho de Zeus, mas, em sua ousadia, ultrapassa os limites e é morto por Heitor. O canto marca uma virada trágica: a morte de Patroclo acende em Aquiles o desejo irreversível de vingança. Integrante da Cia Iliadahomero desde seus primórdios, Richard Rebelo já levou o Canto 16 a diversas cidades do Brasil e também no Exterior. Rebelo se apresentou no Teatro Imperial de Teerã, no Irã, ao lado do diretor Octavio Camargo, interpretando a Ilíada e participou de uma leitura da Odisseia em 20 idiomas.