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Entenda a hidrocefalia normobárica, causa da cirurgia de Chico Buarque
Se não for tratada, condição pode levar à paralisia
04/06/2025 08h35
Por: Redação Fonte: Agência Brasil

O cantor Chico Buarque precisou passar por uma cirurgia neurológica, nessa terça-feira (3), para tratar uma hidrocefalia normobárica, ou de pressão normal. A condição ocorre quando há excesso de líquor - fluido que reveste o sistema nervoso central - acumulado no cérebro, mas sem provocar aumento da pressão intracraniana. Ainda assim, a hidrocefalia pode impactar os movimentos das pernas, a cognição e a capacidade de controle urinário.

A drenagem do líquido foi realizada por meio de uma derivação ventrículo peritoneal, procedimento que consiste na implantação de uma válvula, capaz de drenar o líquido produzido em excesso no cérebro para a cavidade abdominal. Buarque foi diagnosticado precocemente durante um check-up e já se recupera no quarto, "com seu habitual bom humor", de acordo com a assessoria. A previsão é que ele tenha alta em 48 horas.

O neurocirurgião Fernando Gomes, professor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, explica que essa é uma cirurgia de complexidade intermediária, mas permite que o paciente recupere as funções prejudicadas assim que a drenagem se normaliza. Atualmente são utilizadas válvulas programadas, inclusive com tecnologia nacional, que permitem o ajuste da quantidade drenada mesmo após a implantação, caso necessário.

Se a condição não for diagnosticada a tempo e tratada, as consequências podem ser drásticas. "A pessoa pode ficar totalmente incapaz de andar, evoluir para um quadro demencial sério e de incontinência urinária e fecal. É uma condição bastante complicada. A pessoa não morre diretamente por hidrocefalia de pressão normal, mas tem a vida abreviada por questões que vêm em conjunto com essa piora das condições de saúde", diz o especialista.

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Gomes também coordena o grupo de Hidrodinâmica Cerebral do Hospital das Clínicas e alerta que essa condição é mais comum em pessoas com mais de 60 anos, o que pode dificultar a identificação da doença. De acordo com ele, estima-se que 480 mil tenham hidrocefalia de pressão normal no Brasil.

"Muitas vezes, a gente faz o diagnóstico e quando olha para trás o paciente já tinha um quadro clínico. Porque no começo pode se confundir um pouquinho com o processo de envelhecimento, uma certa dificuldade para andar. Às vezes, a pessoa fez uma cirurgia de próstata e tem incontinência urinária ou outra doença associada, como Alzheimer, que impacta a cognição e aí demora para fazer a diagnóstico", complementa o neurocirurgião.

Sintomas

O neurologista do Grupo Valsa Saúde Lucas Menezes, que também é membro titular da Academia Brasileira de Neurologia, alerta que os sintomas da hidrocefalia passam muitas vezes despercebidos dentro do contexto do envelhecimento . Por isso, qualquer redução da capacidade cognitiva ou motora deve ser avaliada por uma especialista.

Ele destaca que um sintoma bastante característico da hidrocefalia de pressão normal é a chamada "marcha magnética", quando o paciente "tem certa dificuldade, digamos assim, de tirar os pés do chão para caminhar". Também são sintomas comuns a incontinência urinária e o declínio cognitivo, mas nem sempre essas três situações aparecem juntas.

"A principal suspeita é clínica, por meio dos sintomas. Mas a gente confirma com exames exames de imagem, preferencialmente a ressonância magnética do cérebro, que mostra essa região onde o liquor está presente com tamanho aumentado. Também é importante realizar um exame chamado de TAP test, em que se insere uma agulha em uma região próxima à medula para retirar uma quantidade de líquido. Depois disso, é avaliado se houve melhora em testes cognitivos, indicando que há um acúmulo causando esse declínio", acrescenta Menezes.

O neurocirurgião Fernando Gomes complementa que muitos casos de hidrocefalia de pressão normal são idiopáticos, ou seja, sem uma origem conhecida, mas há situações secundárias, quando a hidrocefalia surge como consequência de outro problema: "O paciente teve, por exemplo, um trauma de crânio, com algum sangramento, esse sangue entra em contato com o líquor e atrapalha a drenagem. Ou também uma meningite, mesmo que seja viral, também pode atrapalhar a drenagem depois como sequela. Tem ainda pessoas submetidas a alguma outra neurocirurgia e, como resposta do órgão, há o acúmulo de líquido."

Após alguma condição desse tipo, é ainda mais importante que os sintomas clássicos de hidrocefalia não sejam ignorados.

"O procedimento cirúrgico tem bom prognóstico e as funções podem ser restabelecidas. Mas essa evolução acaba sendo ineficiente se você não fizer nada a tempo", destaca o médico.