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Após um ano, centro de Porto Alegre tenta virar página das inundações

Comércio ainda sente reflexos da tragédia climática

Redação
Por: Redação Fonte: Agência Brasil
27/04/2025 às 09h10

Das muitas imagens chocantes das enchentes de maio de 2024 , que arrasaram o Rio Grande do Sul , a inundação do Mercado Público de Porto Alegre , o mais antigo do Brasil, está entre as mais marcantes .

As águas do Guaíba começaram a invadir o prédio icônico da capital gaúcha ainda na manhã do dia 3 de maio daquele ano , obrigando os comerciantes a fecharem as lojas rapidamente.

Aquelas águas subiriam por mais de 1,5 metro de altura , superando a enchente de 1941, até então a maior já vista.

Ninguém imaginava a dimensão da catástrofe e as perdas foram quase totais .

"Quando avisaram que a água ia subir, todo mundo basicamente fechou as bancas, algumas pessoas tiraram algumas coisas e nós erguemos balanças, produtos e outros equipamentos a cerca de um metro do chão", conta Carolina Kader, proprietária de uma loja de insumos e artigos para confeitaria no mercado.

"Era uma sexta-feira, a gente achou que voltaria no fim de semana pra limpar, a água teria baixado, e reabriríamos normalmente na segunda", relata.

Ela só conseguiria retornar, assim como todos os demais permissionários, no dia 29 de maio, quase um mês após a inundação do ano passado.

O Mercado Público só começaria a reabrir de forma gradual em meados de junho , após 41 dias de fechamento.

Inaugurado em 1869, o local tem 155 anos de existência. Além de ser o principal centro de abastecimento de alimentos da cidade, o prédio é um ponto turístico, sobretudo pela atividade gastronômica .

Localizado no centro histórico da cidade, oferece opções de alimentos in natura , como carnes, peixes, frutos do mar e frutas, bem como produtos de confeitaria, vinhos, erva-mate, artigos religiosos, e pratos e lanches em restaurantes e bares.

"Quem visita uma cidade e quer conhecer um pouco da cultura daquele lugar, é no Mercado Público que ele vai entender. Aqui é uma expressão das tradições gaúchas", afirma Jefferson Sauer, sócio da Banca 43, que tem 70 anos de história e vende queijos, vinhos, azeites, linguiças e embutidos.

Sauer, que é vice-presidente da Associação dos Permissionários do Mercado Público de Porto Alegre, celebra o fato de que, após uma crise tão extrema, todas as bancas conseguiram resistir e seguir adiante .

Ao todo, são 102 permissionários.

"São cerca de 800 empregos diretos", aponta o empresário.

Um lugar democrático

No Mercado Público, a variedade de produtos e especiarias é um dos diferenciais.

"O cliente chega e pode escolher aquele corte específico, se orienta sobre a melhor parte de um bacalhau de acordo com o prato que ele quer fazer", diz Ronaldo Pinto Gomes, um dos coordenadores da administração do prédio pela prefeitura.

Além disso, destaca o gestor, todo mundo tem o que comprar ali.

"É o espaço mais democrático que existe nessa proposta de abastecimento de alimentos. Você encontra tainha a R$ 11 o quilo e também os queijos, vinhos e azeites mais sofisticados da cidade. Cerca de 60% dos frequentadores são trabalhadores de renda modesta", acrescenta Gomes.

Essa característica tem muito a ver com o fato de o Mercado Público estar localizado quase em frente a uma das estações da Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (Trensurb), que conecta o centro da cidade com toda a região metropolitana , passando por cidades como Canoas, São Leopoldo, Esteio e Novo Hamburgo.

São mais de 110 mil usuários por dia.

Após as enchentes, o Trensurb ficou fechado por 7 meses, o que impactou a economia do mercado e de toda a região central da capital gaúcha.

"Uma fração significativa desse fluxo passa pelo mercado, acaba comprando alguma coisa", explica Ronaldo Gomes.

Estima-se que o Mercado Público receba cerca 40 mil visitantes por dia .

"Nos tempos gloriosos, eram mais de 80 mil por dia", conta Jefferson Sauer.

A pandemia já havia mudado o contexto de ocupação do centro histórico, com redução da presença de empresas, bancos e outras corporações. A crise das enchentes acelerou esse processo.

"A gente tem hoje aqui no centro cerca de 5 mil imóveis desocupados. Então, acredito que a partir da ocupação desses imóveis, no contexto de uma revitalização da área central, do cais do porto, com formatos novos de ocupação, a gente possa recuperar esse público", aposta o empresário.

Quem também voltou foi Vera Regina dos Santos, ex-moradora da capital, mas que atualmente reside em Nova Araçá, na Serra Gaúcha.

A reportagem da Agência Brasil conversou com a aposentada quando ela estava entrando no mercado pela primeira vez depois da reabertura após a enchente.

"Aqui, sempre foi para mim o meu ponto central de Porto Alegre, eu adoro vir aqui comprar peixe, frutas, chás e legumes", revelou.

Recuperação gradual

Não há uma estimativa global dos prejuízos entre os permissionários do mercado .

Carolina Kader aponta que a catástrofe causou perdas de R$ 700 mil em produtos e equipamentos em sua banca de confeitaria.

Para amenizar a situação, a prefeitura concedeu desconto de 50% no pagamento da mensalidade das lojas a todos os permissionários .

Mesmo assim, ela avalia que as vendas estão 40% menores que o período anterior, que já vinha ainda repercutindo as baixas causadas pela pandemia de covid-19.

No entorno do Mercado Público, a situação é parecida. Marcellus Gomes, dono de uma lanchonete na Praça XV de Novembro, ainda não sente uma recuperação plena .

"Tem muita gente na cidade que perdeu todas as coisas de casa, tem que comprar tudo de novo e não sobra para gastar na rua", avalia.

Próximo dali, uma farmácia que ficou completamente arrasada pela inundaçãovisualiza um cenário mais positivo .

"Até dezembro, foi muito ruim de vendas. Agora, na Páscoa, foi uma virada. Estamos vendendo esse mês 15% a mais que eu vendi em abril do ano passado", diz o gerente Marcelo Barbosa de Souza.

Segundo a Fecomercio do Rio Grande do Sul , com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), após as enchentes, o comércio encolheu mais de 14% até dezembro do ano passado no estado.

A atividade comercial se manteve nesse patamar até fevereiro deste ano.

As enchentes deixaram 184 mortos e, até o momento, 26 pessoas seguem desaparecidas no estado.

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