Em liberdade desde dezembro do último ano, Luiz Carlos Ribeiro Junior, o falso policial que se aventurou e enganou o comandante da Polícia Militar de Campo Mourão, ainda em 2022, foi preso na tarde de hoje no Parque Alphaville, em Umuarama. Ele estava em posse de um carro roubado há quase dois anos, em Marechal Cândido Rondon. “Tivemos a informação de que o HB20 era dublê. Então, devidamente autorizados a entrar na residência, a equipe verificou que o motor tinha numeração diferente”, informou o Major Cláudio Longo. Segundo ele, antes de ser detido, ainda teria ameaçado os policiais.
Luiz é figura conhecida no meio policial, tanto em Umuarama, como em Campo Mourão. Na primeira, até 2022, atuava como uma espécie de X9 – gíria do crime aos delatores, os conhecidos caguetes. A “carreira
promissora”, começou há 14 anos. Na época, tinha um tio dependente de drogas. E as cobranças da boca de fumo acabavam parando no colo do avô. Como a pressão dos traficantes era grande demais, Luiz decidiu adentrar à história, os delatando, um a um. Todos acabaram presos. O episódio teve consequências diretas: estreitou uma “amizade” entre ele e um policial. A partir daí, a vontade disfarçada em ser um homem da lei acabou, de certa forma, se consolidando por denúncias, delações e uma pistola de verdade na cintura.
Já em Campo Mourão, Luiz chegou no fim de outubro de 2022. Na cidade, passou a andar com um Ford Focus e armado com uma pistola Glock, zero bala. Mas que acabou a entregando à PM, sem maiores pressões, após ser descoberto e preso. Na cidade, ele adentrou às portas do 11º BPM se passando por um policial federal. E dizia ter recomendações de um outro Comandante da corporação.
Na época, Luiz alegou que estaria preparando uma grande operação. E pediu o apoio do comandante de Campo Mourão. O que foi, de pronto, atendido. Incluindo a companhia de um PM em suas façanhas. Faltou ao comando apenas um detalhe: comprovar a veracidade de tudo o que o sujeito falava naquele instante. Mas isso não aconteceu. Foi, certamente, o único erro do Comandante. E que, mais adiante, lhe daria muitas dores de cabeça. Principalmente, com processos intermináveis dentro das paredes da corporação. Em tempo: o comandante foi inocentado.
Então, nos 40 dias morando em Campo Mourão, Luiz agiu como um verdadeiro “171” – gíria do crime para mentiroso, malandro, aproveitador, estelionatário, usurpador. E passou a prender, autuar e, até ameaçar. Isso, sem nunca ter pertencido aos quadros de qualquer tipo de polícia. E a bem da verdade, “trabalhou” demais. Quase não parou. Foram três “bocas de fumo” fechadas. Outros três mandados de prisão cumpridos. Duas armas apreendidas, além de um contrabandista de cigarros preso. Isso tudo sem nunca ter sido policial. E se fosse, quantos seriam?
Esta última façanha, inclusive, chegou a ser estampada na imprensa local. No primeiro dia de dezembro de 2022, ele colaborou para prender um sujeito, em casa, com muitos pacotes de cigarros contrabandeados do Paraguai. O detido e a mercadoria foram encaminhados a PF de Maringá. O desejo em ser um policial de verdade é evidenciado em um vídeo que ele mesmo fez, mostrando a apreensão e dizendo ser uma operação conjunta entre a Rotam e a Polícia Federal.
Luiz nunca foi um policial. Tampouco, um Federal. Veio de Umuarama, onde nasceu em 1993, tendo uma infância normal, como tantas outras crianças. Mas, na escola, professores teriam percebido algo diferente em seu comportamento: era muito inteligente. Acima da média. “Nas aulas de matemática, ele não apresentava as resoluções. Vinha logo com o resultado. Depois disso, através de especialistas, descobriram que o seu QI era muito elevado”, revelou há dois anos, Alzemide Ribeiro, mãe de Luiz. Então, diante do quadro, o menino passou a estudar, sempre, em colégios particulares, mesmo não gostando de frequentá-los.
E, por ter muitas faltas, comprometeu uma possível trajetória de sucesso nos campos de futebol. “Ele era muito bom de bola. Tinha gente interessada em gerir a carreira dele. Mas devido às faltas na escola, deu tudo errado”, lembra a mãe. O menino teria se mostrado um craque de bola até os seus 15 anos, quando desistiu do sonho. Luiz concluiu o primeiro grau, mas jamais completou o segundo.
Já na adolescência a mãe percebeu que o filho tendia mais ao pragmatismo. Ou seja, gostava mais fazer a estudar, planejar. De uma certa forma, meter a mão na massa. Então seguiu os passos do pai, Luiz Carlos – morto há nove anos. Conhecido vereador de Umuarama, por duas gestões, foi apelidado como “Pastor Propaganda”, isso sem nunca ter sido crente. O nome se deu ao estilo: sempre usava paletó e gravata.