Quando acordou às 5h da manhã da sexta-feira, dia 3 de maio, o garçom Marcos dos Santos, de 43 anos, ficou assustado. A chuva não parava e já começava a invadir a casa dele, no bairro Centro Novo, em Eldorado do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre. Chamou a esposa, que é técnica de enfermagem, e o filho para saírem o mais rápido possível. Marcos conseguiu abrigo em uma igreja no Sertão Santana, cidade a 80 quilômetros (km) da capital gaúcha.
“Aqui estou em segurança. Mas quero voltar. É meu lar. Preciso voltar. Construímos aquele lugar”, disse o garçom que trabalha em um bar em Porto Alegre. A cidade de Eldorado do Sul, foi uma das mais castigadas do Rio Grande do Sul e ficou com pelo menos 90% da área submersa. Vias de acesso estão bloqueadas pela água ou por deslizamentos e quedas de árvores. “Cheguei a voltar à minha casa durante a semana. Tudo ficou destruído e inundado. Estamos muito angustiados”, afirmou.
Na correria para se salvar, Marcos saiu apenas com a roupa do corpo. Nem carteira nem qualquer documento conseguiu pegar. “Percorri minhas ruas. Estão parecendo cenários de guerra. No caminho pelas ruas da minha cidade, eu fui chorando. Não sei o que estou sentindo”, disse.
Colega de trabalho no bar em que trabalha em Porto Alegre, o gerente Lázaro Kieling mora na mesma cidade e na mesma rua que Marcos. Ele recorda que aquela sexta-feira foi um pesadelo para ele e a família. “Em poucas horas, a rua estava tomada pela água. Parecia um rio. Tudo inundou”, relatou. Também saíram correndo. Ele e a esposa conseguiram um abrigo na cidade de Guaíba, a 40 km de distância.
A casa dele, segundo testemunha, está com água a um metro de altura. “Tudo ficou revirado. Perdi tudo”. Além da perda, a família tem medo. Ele voltou para a casa, e viu um cenário de pesadelo. “Está tudo escuro e há sons de tiroteio à noite. Meus vizinhos dizem que quem resistiu a sair de casa [porque tem dois andares] está sendo assaltado e ameaçado”, afirmou.
Na quinta-feira (9), o secretário estadual da Segurança Pública, Sandro Caron, manifestou preocupação com a violência no estado. Segundo ele, agentes da Brigada Militar e da Polícia Civil têm usado embarcações para fazer o policiamento ostensivo em um cenário de ruas alagadas e edificações parcialmente submersas.