Um estudo elaborado pelo Santander Brasil prevê que, até 2030, um conjunto de 12 atividades ligadas à transição para uma economia de baixo carbono movimentarão R$ 293 bilhões na economia nacional. Para atingir esse montante naquele ano, os segmentos terão de crescer, em média, 28% ao ano, partindo dos R$ 25 bilhões que representavam até 2021, de acordo com os dados setoriais utilizados pelo banco.
Estão incluídos no levantamento segmentos ligados à agricultura de baixo carbono, à produção de biometano, à captura de carbono por florestas (preservação de mata nativa e reflorestamento) e também à eletromobilidade – o mercado de veículos elétricos e híbridos, entre outros. Estas atividades fazem parte de quatro setores: transportes, agronegócio, energia e bioeconomia.
As expectativas foram compartilhadas com representantes de governos, ONGs e investidores durante a COP 28, em Dubai, pelo executivo Leonardo Fleck, responsável pela área de Inovação Sustentável do Santander no Brasil. “O potencial de mercado para as atividades e tecnologias voltadas à descarbonização da economia é enorme, mas não se realizará sozinho. Nós, do setor financeiro, precisamos fazer a nossa parte, que passa por investimentos próprios, pela oferta de crédito voltado a essas soluções e pela criação de estruturas de captação de recursos que permitam direcionar capital para projetos de qualidade”, afirma.
Até o fim de 2023, o Santander prevê atingir a casa de R$ 25 bilhões em operações classificadas como sustentáveis, entre empréstimos com recursos próprios e emissões de títulos de dívida para clientes no mercado de capitais. Entre estas operações, estão dois CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) Verdes, estruturadas especialmente para financiar a bioeconomia e o cultivo da soja livre de desmatamento.
Uma dessas operações, realizada em setembro, viabilizou investimentos de US$ 47,24 milhões (R$ 232,2 milhões) na expansão sustentável da produção de soja no bioma do Cerrado. Os recursos irão financiar 122 propriedades rurais, com juros inferiores à média de mercado, mediante o compromisso de desmatamento e conversão zero de mata nativa, incluindo os excedentes de reserva legal – ou seja, áreas que poderiam ser desmatadas legalmente – no Mato Grosso, Goiás e Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
Os green bonds foram adquiridos pelo Santander Brasil e Rabobank, responsáveis por aportes de US$ 12,62 milhões cada um, e pelo fundo europeu de investimento de impacto AGRI3 (US$ 11 milhões). Esses recursos se somam a um fundo de US$ 11 milhões financiado pelas varejistas britânicas Tesco, Sainbury’s e Waitrose. Trata-se de uma operação de blended finance – nome dado a estruturas financeiras híbridas, que podem aliar aportes de instituições financeiras a recursos não reembolsáveis e de filantropia.
A outra emissão de CRA foi feita em janeiro, com o objetivo de impulsionar negócios ligados à bioeconomia nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Emitido e distribuído pelo Grupo Gaia, e tendo o Santander como coordenador líder, o CRA destinou R$17 milhões em capital de giro a 22 cooperativas comunitárias ligadas ao Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus), e à Belterra, startup que desenvolve sistemas agroflorestais. O instrumento foi utilizado para fomentar diferentes atividades econômicas que ajudam a manter a floresta em pé e a regenerar áreas degradadas a partir do uso sustentável dos recursos naturais.
Entre as demais iniciativas, o executivo destaca a atuação no mercado de carbono, sobretudo a partir da constituição da Biomas, empresa florestal que tem como meta atingir em 20 anos uma soma de áreas protegidas de 4 milhões de hectares – equivalente ao estado do Rio de Janeiro. Fruto de uma parceria do Santander com Suzano, Vale, Marfrig, Itaú Unibanco e Rabobank, a Biomas está preparada para dar início, já a partir de janeiro de 2024, a projetos ligados à geração de créditos de carbono.
“O mercado de carbono voluntário está passando por uma transformação, somente empresas com governança robusta e projetos de alta qualidade e integridade sobreviverão”, prevê Fleck. Para atuar nesse segmento, o Banco conta também com a Waycarbon, consultoria adquirida pelo Grupo Santander que é em consultoria e no desenvolvimento de soluções de tecnologia e inovação voltadas para a sustentabilidade e desenvolvimento de estratégias de descarbonização, visando a ecoeficiência e a economia de baixo carbono.
Além do apoio à Biomas, o Santander participa de outras iniciativas e parcerias, como o Plano Amazônia, ao lado de Bradesco e Itaú Unibanco, que visa potencializar e dar escala a soluções que promovam o desenvolvimento sustentável na região, e a plataforma Jornada Amazônia, que une as três instituições financeiras à Fundação Certi, Fundo Vale, CLUA, Porticus e BID para fomentar um ecossistema de negócios um ecossistema de negócios favorável ao desenvolvimento da bioeconomia, contribuindo para o conhecimento técnico-científico, a educação, o desenvolvimento de mercados e o empreendedorismo para o surgimento e crescimento de negócios inovadores.
No varejo, o Banco tem redirecionado o foco de sua Financeira, que a concessão de crédito para a aquisição de veículos híbridos e elétricos, eletrificação de frotas e para as instalações de painéis fotovoltaicos, com a plataforma de crédito digital SIM.
“Criamos em 2023 uma base escalável, a partir de operações inovadoras estruturadas e ações que posicionam o Santander como protagonista em finanças sustentáveis inovadoras”, afirma Fleck. “O potencial para novas emissões de CRAs, por exemplo, é muito grande. Estamos em conversas com empresas de insumos e commodities e investidores que podem trazer capital catalítico, tanto do setor privado quanto de governos ou de organismos multilaterais, para alavancar operações no próximo ano, expandindo nossa atuação.”