Um dos segmentos que apresentou maior estabilidade frente às dificuldades da pandemia do coronavírus foi o imobiliário, que cresce continuamente desde 2017 e expandiu acima da economia nacional durante o período de isolamento social.
De acordo com dados do Sinapi (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil), em produção conjunta com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e a Caixa Econômica Federal, o Índice Nacional da Construção Civil fechou 2022 com alta de 10,9% no acumulado do ano. Essa taxa foi a segunda maior já registrada desde 2014, quando teve início a análise histórica, ficando atrás apenas de 2021, cujo percentual chegou a 18,65%.
Neste cenário, um dos responsáveis pelo aumento nos índices é o crescimento da venda de imóveis com apenas 1 dormitório, os chamados apartamentos compactos. Só na cidade de São Paulo, cidade mais populosa do país, as negociações envolvendo imóveis pequenos representaram 30% das vendas.
Situação semelhante tem sido identificada na capital mineira, Belo Horizonte, conforme levantamento realizado por uma startup do mercado imobiliário. Nos últimos meses do ano passado, as construções residenciais com até 30 metros quadrados, metragem que caracteriza o imóvel como microapartamento ou apartamento compacto, foram as mais valorizadas. A empresa analisou mais de 145 mil anúncios ativos de apartamentos em Belo Horizonte entre julho e dezembro de 2022, constatando aumento do preço do metro quadrado de 3,4% para esse tipo de unidade, superior ao registrado em São Paulo (3%) e Rio de Janeiro (2,4%), no mesmo período.
A Match Imob reforça a informação ao registrar altas buscas por apartamentos de até R$ 250 mil em Belo Horizonte e região. “Isso se deve, provavelmente, ao fato de a cidade possuir diversas oportunidades de emprego, com salários atraentes, além de ser um importante pólo tecnológico e econômico do Brasil”, comenta Mayron César, CEO da empresa.
O aumento nas vendas é uma perspectiva
Esse é um fenômeno que tem explicação e que já aconteceu em outros países do mundo: queda de renda e custo mais alto da moradia. A construção de apartamentos menores tem sido um bom investimento para as construtoras e boa oportunidade de negócio para os investidores que buscam rentabilidade com o aluguel. É assim que as unidades imobiliárias compactas têm se espalhado por todo o Brasil, cada vez menos em função de um novo estilo de vida e mais relacionado ao crescimento das cidades e à economia.
Geralmente bem localizados, esses imóveis oferecem independência para aqueles que desejavam morar sozinhos, maior segurança, economia com a mobília – que precisa ser bem planejada e servir para várias funções, facilidades dentro do próprio condomínio e aproximam as pessoas dos seus locais de trabalho, reduzindo a necessidade de deslocamento para lugares mais distantes e o tempo que gastariam no trânsito, além de estarem perto de boas escolas e opções de lazer.
Em BH, valor mais baixo do aluguel é atrativo para a locação de apartamentos compactos
O valor para a locação de um microapartamento na capital mineira chega a custar a metade do que é cobrado em apartamentos com quartos maiores. Dados mostram que essas unidades de até 30m² são anunciadas por R$ 1.055 contra R$ 2.100 para espaços com maior metragem.
Aspectos urbanísticos e ecológicos entram na discussão para ajudar a entender o apelo por esse tipo de construção. A falta de espaço para construir, a necessidade de verticalização para suprir a demanda e a exigência da sociedade para uma utilização mais consciente do solo, que têm feito as cidades se transformarem buscando seguir diretrizes de sustentabilidade, modificam a maneira de viver e de morar.
Além disso, segundo outras informações da Match Imob, outra justificativa para a busca do público por apartamentos menores na capital mineira é por esta possuir um custo de vida semelhante ao de outras capitais, fazendo com que Belo Horizonte ofereça uma qualidade muito alta e tornar possível que os moradores aproveitem a agitação de uma metrópole sem perder o charme interiorano.
Futuro
Como apontam os especialistas, os microapartamentos ou apartamentos compactos são opções exploradas como a solução para o desenvolvimento e futuro das cidades. Por se tratar de unidades econômicas, com menor espaço interno, incentivam os proprietários e moradores a participarem das atividades do condomínio, do bairro e da própria cidade.
Mudanças culturais e sociodemográficas, que ainda englobam o aumento na taxa de envelhecimento da população – segundo a ONU, pela primeira em sua história, o Brasil terá em 2040 mais idosos (maiores de 65 anos) do que jovens (menores de 15 anos) –, a diminuição no tamanho das famílias, adiamento do casamento para priorizar a carreira e a estabilidade financeira, podem ser sinais de que as moradias compactas vieram para ficar.
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