Até as 9h desta sexta-feira (30), grande parte das delegacias do Paraná atende somente casos de urgência e emergência. Isso porque escrivães e investigadores da Polícia Civil (PC) param por 48 horas contra o plano de reestruturação de carreiras proposto pelo governador Ratinho Jr. (PSD). O documento já está na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) para ser votado.
De acordo com o Sindicato das Classes Policiais Civis do Paraná (Sinclapol), a adesão à paralisação, que começou na manhã desta quarta-feira (28), é de 80% considerando o estado todo.
As propostas do governo contemplam reestruturação nas carreiras dos quadros da Polícia Civil (PC), Polícia Científica e Polícia Militar (PM). Na PC, a proposta é unir as carreiras de escrivães e investigadores, transformando esses cargos em um só, com a criação da carreira de agente de Polícia Judiciária.
Segundo o governo do Estado, a unificação da carreira da PC deve melhorar o atendimento à população. A alteração fará com que os quadros fiquem compostos por cargos de agente de operações, papiloscopista, agente de Polícia Judiciária. Além disso, o texto engloba o fim das progressões, instituindo promoções por qualificação, e aspectos do desenvolvimento da carreira.
A mudança desagrada as entidades da classe. Além do Sinclapol, a Associação dos Investigadores de Polícia Civil do Paraná (Assipol) divulgou um manifesto no qual critica a diferença salarial entre delegados e demais servidores da Polícia Civil, que pode chegar a mais de R$ 10 mil. “[O projeto] é fruto da imposição daqueles que desconhecem a segurança pública e suas nuances”, diz o texto. “Existe um abismo entre a base e os delegados”, critica presidente da Assipol, Eyrinar Fabiano Dortot.
O Paraná tem cerca de 5 mil policiais civis entre ativos e aposentados. Aproximadamente 3,5 mil deles são escrivães e investigadores, de acordo com o Sinclapol. “Ou seja, essa mudança não vai beneficiar a maioria dos policiais do Estado”, lamenta a presidente do sindicato, Valquíria Tisque.
Além da paralisação nas delegacias, os policiais farão uma caminhada até a sede administrativa da Polícia Civil em Curitiba. Ônibus com trabalhadores do interior saíram de diversas cidades nesta quarta-feira (28) com destino à capital para endossar o movimento.
Na Alep, as entidades que representam a categoria conseguiram adiar a votação após articulação com os deputados. O texto volta à pauta na segunda-feira (3) com emendas propostas pelos policiais.
“O Governo vai tentar tratorar. O Governo fez essa proposta sem ouvir os trabalhadores, sem conversar com todas as classes, não tem ninguém satisfeito”, disse o deputado Requião Filho (PT). O parlamentar explicou ainda que a bancada de oposição também apresentará emendas para amenizar os prejuízos dos escrivães e investigadores. Representantes dos policiais se reuniram ainda com o deputado Professor Lemos (PT), que também deve assinar as emendas.
Na manhã desta quinta-feira (29), a categoria pretende entregar uma lista com alguns pontos críticos aos parlamentares que se comprometeram a analisar. O líder do governo, deputado Hussein Bakri (PSD), também falou com os representantes dos policiais.
Nos bastidores, o que se espera é que não haja grandes dificuldades para que o texto seja aprovado conforme a vontade do governador, que tem ampla maioria da Alep.
Apesar da expectativa de que o projeto passe, o Sinclapol diz que haverá reação. “Se o texto passar não está descartada a possibilidade de greve”, afirma Tisque.