Curiosidade Sahul
Cientistas revelam como os humanos povoaram o antigo megacontinente de Sahul
Entre 75.000 e 50.000 anos atrás, os humanos começaram a atravessar o megacontinente de Sahul, uma massa de terra que ligava o que hoje é a Austrália, a Tasmânia, a Nova Guiné e as Ilhas Aru.
14/02/2023 19h07
Por: Redação Fonte: https://universoracionalista.org/cientistas-revelam-como-os-humanos-povoaram-o-antigo-megacontinente-de-sahul/
Austrália como é hoje. (Créditos: Observatório da Terra da NASA)

Traduzido por Julio Batista
Original de David Nield para o ScienceAlert

Novas pesquisas revelam mais sobre as rotas usadas por esses primeiros humanos na região e o tempo que levaram para explorar completamente as extremidades de Sahul. Pode ter levado até 10.000 anos para a vasta área ser completamente coberta por esses intrépidos humanos, o que é o dobro do que se pensava anteriormente. Para refinar suas estimativas, os pesquisadores desenvolveram um modelo novo e mais sofisticado que leva em consideração o que influenciaria e afetaria as viagens, como a capacidade da terra de fornecer alimentos, a distribuição de fontes de água e a topografia da paisagem.

Tradução da imagem: cidades modernas (modern cities), superestradas usadas para a migração (migration super-highways), rotas secundárias (secondary routes), sítios arqueológicos (archaeological sities) e terreno altamente visível (highly visible terrain). (Créditos: Universidade Flinders)

“As formas como as pessoas interagem com o terreno, a ecologia e potencialmente outras pessoas alteram os resultados do nosso modelo, fornecendo resultados mais realistas”, disse o ecologista Corey Bradshaw, da Universidade Flinders, na Austrália.

“Agora temos uma boa previsão dos padrões e processos de como as pessoas se estabeleceram nessas terras dezenas de milhares de anos atrás”.

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Os pesquisadores combinaram os dados de dois estudos publicados anteriormente, um que modelou padrões de movimento e crescimento populacional por meio de um sistema baseado em redes e outro que mapeou as prováveis ​​’superestradas’ de exploração com base em características da paisagem. 

Rotas e população se espalham em Sahul. Tradução da imagem: superhighways (superestradas), sítios arqueológicos (archaeological site), rasterizado (rasterized), entry (entrada), chegada relativa em anos (relative arrival in years) e milhões de anos atrás (ka). (Créditos: Bradshaw et al., Quaternary Science Reviews, 2023)

Além de estender a previsão para o tempo necessário para colonizar o megacontinente devido às restrições impostas pela topografia, o novo modelo também identificou um novo fluxo de movimento não detectado para o sul através do centro de Sahul.

“Uma pessoa caminhando na paisagem e escolhendo esse caminho básico repetidamente provavelmente levaria a fluxos de migração porque os indivíduos transmitem o conhecimento da paisagem ao longo do tempo para o resto da população”, escreveram os pesquisadores em seu paper publicado.

A migração provavelmente começou através de Timor e, mais tarde, pelas partes ocidentais da Nova Guiné. A rápida expansão teria então ocorrido para o sul em direção à Grande Baía Australiana e para o norte até a Nova Guiné.

Os pesquisadores também sugerem que as viagens para a Tasmânia teriam sido restringidas pela elevação e queda do nível do mar no Estreito de Bass – um exemplo de como o novo modelo aponta a influência da paisagem na propagação da população.

“Nossa modelagem atualizada mostra que a Nova Guiné foi povoada gradualmente ao longo de 5.000 a 6.000 anos, com foco inicial no Planalto Central e na área do Mar de Arafura antes de chegar ao Arquipélago de Bismarck no leste”, disse Bradshaw.

“Prevê-se que o povoamento do extremo sudeste e da Tasmânia tenha ocorrido entre 9.000 e 10.000 anos após a chegada inicial a Sahul.”

Os pesquisadores acham que suas descobertas podem se aplicar a outras partes do mundo quando se trata de mapear como o Homo sapiens saiu da África, passou pela Ásia e chegou às Américas, embora os modelos tenham que ser adaptados para atender diferentes regiões.

Essas previsões poderiam então ser apoiadas e verificadas usando descobertas de escavações arqueológicas, o que foi o caso neste estudo em particular.

Seja preferindo uma rota através de duas montanhas em vez de sobre elas ou mantendo-se perto de fontes de água, esses detalhes podem ser significativos quando se trata de onde as populações se espalham e com que rapidez.

“Isso também mostra o poder de combinar modelos computacionais com arqueologia e antropologia para refinar nossa compreensão da humanidade”, disse a arqueóloga Stefani Crabtree, da Universidade Estadual de Utah, EUA.

A pesquisa foi publicada na Quaternary Science Reviews.