O relatório de safra do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab), fechou janeiro com estimativa de redução de cerca de 3% no verão 2022/23, relativamente ao mês anterior. A queda deve-se, sobretudo, às condições climáticas não favoráveis no período de plantio ou desenvolvimento. Em dezembro, era prevista safra de 25,5 milhões de toneladas. Agora, 24,7 milhões. Mesmo assim, continua superior aos dois últimos ciclos e, dependendo do próprio comportamento do clima, pode ser uma das maiores da história.
A Previsão Subjetiva de Safra (PSS) , apresentada nesta quinta-feira (26) pelos técnicos do órgão, aponta, no entanto, um leve aumento na área plantada, saindo de 6.233 mil hectares para 6.268 mil hectares, refletido basicamente pelos dois principais produtos. Enquanto o milho foi de 383,9 mil hectares para 386,7 mil, a soja subiu de 5 milhões e 717 mil hectares hectares para 5.743.000.
“O desenvolvimento da safra de verão no Paraná está dentro do previsto. Apesar dessa queda em relação à projeção de dezembro, o que é explicado pelas condições de clima que oscilaram bastante desde o início do plantio, a expectativa é de uma grande safra paranaense”, afirmou o chefe do Deral, Marcelo Garrido. “A aposta que os técnicos do Deral e os produtores fazem agora é pela continuidade das condições propícias para que o desenvolvimento das plantas não sofra nenhuma intercorrência”.
SOJA– Com as novas estimativas, a soja deve ganhar 1,3% de área plantada na atual safra, comparativamente com a anterior. Em relação à previsão inicial de produção, que era de 21,5 milhões de toneladas, a redução verificada agora é de 3,7%, ficando em 20,7 milhões de toneladas, o que equivale à perda de 800 mil toneladas.
“Mesmo com a redução da produção, especificamente nas regiões Oeste e Sudoeste do Estado, a safra, pela leitura do momento, é ótima”, disse o analista do segmento no Deral, Edmar Gervásio. “Se o clima for favorável, poderemos ter produção entre as maiores da história”.
Em algumas regiões, a colheita já iniciou, mas de forma lenta, com perspectivas de aumento a partir da primeira semana de fevereiro.
MILHO– Para a primeira safra de milho, a expectativa é de produção de 3,7 milhões de toneladas. O volume é 2,3% menor que a previsão inicial, de 3,8 milhões de toneladas. “A redução é em decorrência dos impactos climáticos no decorrer do ciclo da cultura, particularmente nas regiões Oeste, Sudoeste e Noroeste”, salientou Gervásio. “Mas, no geral, será uma boa primeira safra”. A colheita avança lentamente.
Para a segunda safra, o plantio segue a mesma lentidão, aguardando melhor ritmo na colheita da soja, pois ocupará parte desse espaço. A estimativa atual é que sejam plantados 2,6 milhões de hectares e que os produtores possam retirar 15,4 milhões de toneladas de milho. Dessa forma, a soma das duas safras deve ultrapassar 18 milhões de toneladas. “Será excelente”, opinou Gervásio.
TRIGO– Em relação ao trigo da safra 2021/22, não há alteração no prognóstico de 3,37 milhões de toneladas. “Deve atender relativamente bem a nossa indústria”, prevê o agrônomo Carlos Hugo Godinho. Mas o Paraná e o Brasil ainda deverão importar. No caso do Paraná, parte virá do Rio Grande do Sul, que tem previsão de safra grande. O parceiro usual do Estado e do Brasil era a Argentina, que sofre com estiagem. No ano passado, a produção foi de 22 milhões de toneladas. Para o atual ciclo, a estimativa é de ficar entre 12 e 14 milhões. A perda é equivalente à produção brasileira.
“Com isso, os preços talvez se elevem no primeiro trimestre do ano e podem até estimular aumento no plantio da próxima safra”, estimou Godinho. Associado a isso, o atraso no plantio e colheita da soja, sobretudo no Sudoeste, pode levar à redução da área do milho segunda safra e o espaço ser ocupado por trigo. Ainda em relação ao preço, estima-se um aumento em razão de o Brasil precisar trazer de parceiros mais distantes que a Argentina, como os Estados Unidos. “Dificilmente haverá período de baixa nos preços da farinha e, consequentemente, do pão”, disse o agrônomo.
OLERICULTURA– A batata, cultura que o Paraná tem expressão nacional com 20% da produção, tem a primeira safra toda plantada e 80% já colhida, restando 99,5 mil toneladas ainda a colher no campo. A produção estimada é de 467,9 toneladas, ou 5% acima do ano passado. “Com o movimento do clima em 2022, quando tudo atrasou, a batata também teve seu ciclo alterado de 15 a 20 dias”, disse o agrônomo Paulo Andrade. O cultivo da segunda safra deve se equiparar ao período anterior, rendendo 310,8 mil toneladas.
A cebola foi o produto que mais aumentou de preço no ano passado, enquanto em 2021, no mercado nacional, ela tinha caído 49% nas roças. Com uma forte redução das áreas de cultivo, em 2022, o valor explodiu e, de janeiro a dezembro, chegou a subir 103%, nas Ceasas/PR. O tomate aumentou 44% e a batata, 35%. Segundo levantamento de Andrade, no preço fechado de dezembro para o preço de agora, a cebola já baixou 37% e o tomate 6%, enquanto a batata apresentou ligeiro aumento de 14%.
“Pesquisadores nacionais apontam que a tendência para este ano é que a área de hortaliças tende a crescer e espera-se arrefecimento nos preços de fertilizantes, que vai diminuir teoricamente o custo de produção, o que possibilita ofertar ao consumidor final um produto com preço mais adequado”, destacou o agrônomo. A área de cebola teve redução de 17% nesta safra, e a produção caiu 9%, resultando em 107,1 mil toneladas. O Paraná responde por aproximadamente 7% da produção nacional.
A intenção de semeadura do tomate segunda safra, que acontece entre janeiro e julho, é de 1,6 mil hectares, o que representa 7% a mais que no ano passado, com a produção se elevando em 9% e resultando em 99,9 mil toneladas. Da segunda safra, plantada normalmente entre agosto e novembro, a colheita já atingiu 58%. No entanto, o plantio atrasou e ainda faltam 2% da área a serem semeadas, consequência das condições climáticas desfavoráveis.
FEIJÃO– Diferentemente de outros anos, as condições climáticas estão favorecendo a cultura do feijão. A fase predominante é a colheita, que já atingiu cerca de 52% dos 116 mil hectares cultivados na primeira safra de 2022/23. “Esse trabalho de colheita está atrasado, se comparado com safras anteriores, quando somava cerca de 80% nessa época, porém a principal causa reside no período de plantio que foi realizado mais tarde, em função de excesso de chuvas no início”, disse o economista Methodio Groxko, analista da cultura no Deral.
A primeira safra tem previsão de 115,9 mil hectares, redução de 17% em relação ao ano passado. “Sistematicamente, o feijão vem reduzindo a área no primeiro plantio desde 2013, jogando toda essa área para a soja”, disse o economista. A produção deve atingir 195,8 mil toneladas, o que representa queda de 18% em relação às 238 mil toneladas projetadas inicialmente. “Este ano choveu demais no plantio, as lavouras não tiveram desenvolvimento normal, principalmente em razão também de temperaturas baixas”, explicou Groxko.
Em razão disso, muitos produtores passaram as máquinas sobre essas áreas, que estavam precárias, e optaram pela substituição por soja. Segundo o economista, no momento do plantio, os preços também não estavam atrativos para o feijão. “E contribui também o fato de o risco em relação ao feijão ser sempre maior que em relação à soja”, afirmou. “Essas três causas justificam a redução em área, mas a produção deve ficar igual à do ano passado e é feijão de excelente qualidade”, acentuou. A primeira safra deve somar 195,8 mil toneladas.
CAFÉ– A safra de café de 2022 rendeu ao Estado em torno de 500 mil sacas, ou aproximadamente 29 mil toneladas. “A comercialização ainda está lenta, porque o produtor espera que o preço reaja um pouco, pois caiu na virada do ano, embora seja normal para a época”, pondera o economista Paulo Sérgio Franzini. Para a safra 2023, a previsão está em torno de 700 mil sacas,
“É um aumento de cerca de 40%, que já era esperado, com recuperação das lavouras afetadas por conta das geadas e da seca. Não recupera 100% do potencial, mas já dá uma boa elevada na produção”, afirma Franzini. Segundo ele, a área cultivada mostra estabilidade, com lavouras mais antigas sendo substituídas pelas que estão sendo implantadas ou renovadas no Estado.
O clima está bom para o desenvolvimento, apesar das floradas desiguais, que se estenderam de agosto a janeiro, quando o normal seria entre setembro e novembro. “Na hora da colheita terá na mesma planta café maduro, café granado, café começando a desenvolver, e isso não é bom para a colheita”, completa. A colheita deve começar em março para os que floresceram antes, mas a maior parte será tirada em junho, estendendo-se até setembro.
BOLETIM– O Deral também publicou nesta quinta-feira o Boletim Semanal de Conjuntura Agropecuária . Além de discorrer sobre as culturas acima, traz informações sobre a fruticultura no Estado, a bovinocultura de leite e sobre a produção e exportação de perus, particularmente pelos três Estados do Sul.