A maioria destes mercenários tem dupla cidadania, da Ucrânia e de Israel, mas também há aqueles que não têm nada a ver com esse país do Leste europeu. Ao mesmo tempo, em Israel, apesar de o país punir o mercenarismo, eles são considerados "heróis voluntários".
A agência Sputnik descobriu quem integra a "equipe israelense" das Forças Armadas da Ucrânia, quem a patrocina, e se o
governo israelense aprova tacitamente o envio destes homens para a Ucrânia.
Heróis da mídia israelense e ucraniana
Os mercenários israelenses, ou, como eles se autodenominam, a "equipe israelense" das forças ucranianas, são extremamente ativos não só nas redes sociais, mas também na mídia ucraniana e israelense. Eles não têm problemas em contar à mídia sobre o seu trajeto e o desejo de "salvar" a Ucrânia.
Ninguém esconde a composição da "equipe" – seu comandante também é conhecido. Durante a primavera (no Hemisfério Norte), por ocasião da Páscoa judaica, os mercenários israelenses lançaram toda uma campanha de promoção nas redes sociais e na mídia.
As primeiras
evidências em vídeo da chegada à Ucrânia de mercenários vindos de Israel surgiram no final de abril, nas vésperas do Pessach (Páscoa judaica). No vídeo, se pode ver um grupo de mercenários israelenses hospedados em um hotel na cidade de Dnepropetrovsk. Segundo disseram, eles queriam festejar o feriado e depois ir à
área de combates, lutar ao lado das forças ucranianas. A viagem, acomodação e organização teve o apoio do rabino-chefe de Dnepropetrovsk, Shmuel Kaminetsky, a quem eles agradeceram. Vale ressaltar que, das 4-5 pessoas que aparecem no vídeo, todas são fluentes em russo, exceto uma, que fala apenas em hebraico.
'Obrigado ao governo de Israel por nos ajudar'
Ao mesmo tempo, apareceu um
vídeo "oficial" de mercenários israelenses por ocasião da mesma festividade, publicado pelo maior jornal israelense Yedioth Ahronoth. O discurso em hebraico começa com o comandante da unidade israelense. Ele menciona um detalhe interessante.
"Gostaríamos de agradecer muito a todo o povo de Israel, bem como ao governo de Israel por nos ajudar".
Isso quer dizer que o governo israelense não só está ciente de que alguns cidadãos estão infringindo a lei, viajando como mercenários para outro país, mas também os apoia. Além disso, todos eles são militares das Forças de Defesa de Israel (FDI) – ativos ou na reserva, pois, de acordo com a lei israelense, todos os cidadãos devem passar pelo serviço militar. Em outras palavras, entre os mercenários israelenses não pode haver supostos combatentes da liberdade como a mídia os tenta retratar.
Mercenários de língua russa e não só
O chefe da "equipe israelense", Denis Desyatnik, também está entre os falantes de língua russa. De acordo com os seus
relatos em diversos meios de comunicação ucranianos e israelenses, ele emigrou para Israel do Uzbequistão na década de 1990. No final de fevereiro deste ano, Denis viajou para a Ucrânia como voluntário. Ele teve a oportunidade de formar seu próprio agrupamento, que recebeu o nome tácito de "equipe israelense". Sob o seu comando estão mercenários israelenses, bem como estadunidenses de ascendência judaica, que anteriormente faziam parte do
contingente dos EUA no Afeganistão.
Militares das FDI
Na verdade, a grande maioria dos mercenários israelenses presentes na Ucrânia serviram nas FDI e alguns têm experiência de combate real. Entre eles está o ex-oficial das
forças especiais de elite Golani, Grigory Pivovarov. Apesar de ter nascido em São Petersburgo e ter raízes russas, o veterano das forças especiais se juntou às fileiras das Forças Armadas da Ucrânia em janeiro de 2022. Já naquela época ele relatava à mídia israelense que estava se preparando para lutar contra o Exército russo.
Viktor Fridman, um ex-militar das FDI de 27 anos natural de Dnepropetrovsk e com passaporte ucraniano, também se juntou às forças de Kiev. Ele vivia em Haifa desde os 19 anos. Em 2018, terminou seu serviço no Exército israelense como comandante de tripulação de tanque.
Conclusões e questões em aberto
Podemos assim concluir que na Ucrânia, nas fileiras das Forças Armadas do país, combatem várias dezenas, senão centenas de mercenários israelenses. Na sua maioria, eles não se escondem, surgem nas redes sociais com frequência, falam com a mídia sem problemas, ou seja, não têm medo de ser identificados e não sentem perigo. Obviamente, os mercenários referidos na investigação são uma pequena parte daqueles que vieram para combater. No entanto, certas conclusões já podem ser tiradas.
O governo de Israel está claramente ciente do que está acontecendo, tendo em conta que os militantes viajam e retornam para Israel sem quaisquer problemas, apesar de existir castigo penal por atividades mercenárias. No entanto, permanecem em aberto várias questões: por que o governo de Yair Lapid, que em breve vai terminar suas funções, tolera tacitamente o envio de combatentes para as forças ucranianas? Será que o novo governo de Netanyahu tratará esse fenômeno com a mesma displicência, enquanto espera manter boas relações com Moscou?