Os protestos desencadeados no Peru após a destituição do presidente Pedro Castillo já deixaram ao menos 22 mortos e dezenas de feridos, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde peruano nesta sexta-feira (16/12).
A pasta de Saúde peruana detalhou que, do total de mortes, oito aconteceram no departamento de Ayacucho, seis em Apurímac, três em La Libertad, uma em Cusco, três em Junín e outra em Arequipa. Até agora, não foram divulgadas as identidades de todas as vítimas, mas pelo menos três delas eram menores de idade.
O ministério divulgou ainda que 63 feriados permanecem hospitalizadas após os protestos ocorridos em várias partes do país. De acordo com a pasta, 26 deles estão em Ayacucho, onde na quinta-feira os manifestantes tentaram tomar o aeroporto, o que levou os militares a abrir fogo contra eles, como pode ser visto em vários vídeos publicados nas redes sociais.
Os protestos no país começaram após a destituição de Castillo. Em 7 de dezembro, ele tentou dissolver o Congresso peruano, intervir nos poderes públicos e governar por decreto, afirmando que a oposição não permitiu que ele realizasse seu trabalho e que recebeu tratamento racista.
Castillo não recebeu apoio institucional e seu gabinete renunciou em rejeição à tentativa fracassada de golpe. Logo em seguida, ele foi destituído e detido. Ele é investigado agora por rebelião e conspiração.
Os protestos começaram a se intensificar no último domingo. Os manifestantes exigem a libertação de Castillo, a renúncia de sua sucessora, Dina Boluarte, o fechamento do Congresso e eleições gerais imediatas.
Em resposta à desordem pública, a nova presidente do país declarou estado de emergência por 30 dias na quarta-feira. A medida permite que as Forças Armadas participem da segurança interna. O governo decretou ainda um toque de recolher em 15 províncias de oito departamentos. A medida teve início na noite desta sexta-feira.
O toque de recolher ficará em vigor no país por ao menos cinco dias. As restrições de movimento começam entre 18h e 20h (horário local), dependendo da região.
Nesta sexta-feira, a presidente peruana pediu diálogo e lamentou as mortes. "Lamento os trágicos acontecimentos que ceifaram a vida de vários compatriotas em várias regiões do país. Isso tem que acabar", enfatizou Boluarte durante uma solenidade de formatura de oficiais da Escola Militar de Chorrillos.
A presidente convocou os líderes das igrejas católica, cristã e evangélica para montar uma mesa de diálogo em cada uma das regiões que se mobilizaram, a fim de abrir espaços para convocar os representantes que lideram as marchas para ouvir suas demandas e canalizá-las.
A violenta repressão aos protestos já levou dois ministros do primeiro gabinete de Boluarte a renunciar. São eles os titulares de Educação e Cultura, Patricia Correa e Jair Pérez. "A morte de compatriotas não tem justificação. A violência do Estado não pode ser desproporcional e causar mortes", ressaltou Correa ao deixar o cargo.
O Congresso peruano rejeitou esta sexta-feira um projeto de lei para antecipar as eleições gerais para dezembro de 2023. Apresentada pelo presidente da comissão da Constituição, Hernando Guerra, a proposta recebeu 49 votos a favor, 33 contra e 25 abstenções, longe da maioria absoluta dos 87 votos necessária para sua aprovação.
A proposta previa a redução do mandato de Boluarte e dos parlamentares, que deveriam terminar em julho de 2026, e incorporava diversos projetos apresentados para antecipar as eleições.
A proposta de realização de eleições em dezembro de 2023 era defendida por Boluarte. Após a derrota no Congresso, a presidente apelou aos parlamentares neste sábado para aprovarem a antecipação do pleito. Ela descartou ainda renunciar.
O Peru vive desde 2016 uma sequência de crises políticas, com Congresso e presidentes em confronto. O presidente Martin Vizcarra, que governo o país de 2018 a 2020, dissolveu o Congresso em 2019 e determinou a realização de novas eleições. A nova Legislatura, então, destituiu Vizcarra do cargo no ano seguinte.
Em seguida veio o presidente Manuel Merino, que durou menos de uma semana antes de uma violente repressão a protestos matar dois manifestantes e ferir mais 200 pessoas. Seu sucessor, Francisco Sagasti, durou nove meses antes de Castillo assumir o poder.