O 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), encerrado neste sábado (22/10), consolidou o poder do presidente Xi Jinping através de uma série de emendas constitucionais que reforçam sua liderança e aumentam sua influência nos principais comitês internos da legenda.
Os 2,3 mil delegados do partido endossaram o papel central de Xi na liderança do país, o que praticamente lhe assegura um inédito terceiro mandado à frente do governo chinês. No Congresso, realizado a cada cinco anos, são decididos os rumos do país pelos anos seguintes.
Os delegados aprovaram uma ampla reforma que fará com que alguns membros do alto escalão o governo deixem seus cargos no próximo ano, o que dará a Xi o poder de indicar seus aliados para estas posições.
Foi aprovada por unanimidade uma resolução que obriga todos os membros do PCC a reconhecerem "a posição central do camarada Xi Jinping no Comitê Central do Partido e no Partido como um todo". O novo Comitê Central, de cerca de 200 membros, foi eleito pouco antes da cerimônia de encerramento do Congresso.
A lista das autoridades eleitas revelou que quatro dos sete membros do Comitê Permanente do PCC – o núcleo central do poder chinês – serão substituídos. As trocas incluem o primeiro-ministro, Li Keqiang, e os líderes Han Zheng, Li Zhanshu e Wang Yang, sendo que este último chegou a ser cogitado como possível sucessor do premiê.
A aposentadoria de Han Zheng e Li Zhanshu já era prevista, uma vez que ambos estão acima da idade limite de 68 anos, algo que, no entanto, não se aplica a Xi Jinping, de 69 anos.
Wang e Li Keqiang, ambos com 67 anos, poderiam ter permanecido no Comitê Permanente ou no Politburo, de 25 membros, para novos mandatos de cinco anos.
Xi deverá ser confirmado como secretário-geral do PCC nesse domingo, pouco depois da primeira reunião do novo Comitê Central, o que abre caminho para seu terceiro mandato como presidente e para as trocas no alto escalão do governo, que devem ocorrer em sessões legislativas em março do próximo ano.
As emendas aprovadas, apesar de não incluírem o pensamento de Xi como a filosofia motriz do país, reafirmaram sua liderança e o colocaram como o mais poderoso chefe de governo na China desde a era e Mao Tsé-tung.
A China e o Partido Comunista enfrentam uma série de desafios globais sem precedentes. A resolução aprovada ao final do Congresso do PCC promete reforçar as Forças Armadas do país e subjugar o movimento de independência em Taiwan– o território autogovernado desde 1949, com regime democrático e politicamente próxima de países do Ocidente, que Pequim considera Taiwan parte de seu território.
Taiwan esteve recentemente no centro de uma tensão geopolítica, depois que a presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, fez uma visita a Taiwan, provocando a fúria de Pequim. Em resposta, o governo chinês realizou exercícios militares ao redor da ilha.
Em um evento meticulosamente coreografado, os líderes do PCC estavam determinados a evitar quaisquer surpresas. No entanto, o ex-presidente chinês Hu Jintao protagonizou uma cena que destoou da aparente harmonia demonstrada durante o Congresso.
Hu, de 79 anos, resistiu ao ser retirado da primeira fila da bancada no auditório do Grande Salão do Povo Chinês, onde estava sentado ao lado de Xi Jinping. Um assistente tentou removê-lo agarrando um de seus braços, antes de ser afastado pelo ex-presidente.
Após um desentendimento, Hu acabou deixando o local acompanhado de seguranças, depois de uma breve troca de palavras com Xi e com o premiê Li Keqiang. Imagens de vídeo mostram o atual presidente segurando alguns papéis debaixo da mesa, enquanto Hu tentava removê-los.
As autoridades chinesas não explicaram o motivo da retirada do antecessor de Xi do auditório, que gerou uma série de especulações.
As buscas pelo nome de Hu Jintao na rede social chinesa Weibo pareciam estar sob censura neste sábado. Os resultados mais recentes eram datados de sexta-feira, e mostravam somente postagens de perfis oficiais do governo.
Desde que assumiu a presidência, Xi Jinping se tornou o líder mais autoritário do país desde Mao Tsé-tung. Ele conseguiu praticamente anular a oposição dentro do partido, com muitos de seus rivais sendo presos sob acusações de corrupção. Seu governo demonstra pouca ou nenhuma tolerância com dissidentes.