“Uma manifestação proibida transformou-se em insurreição. Houve pelo menos trinta mortes, incluindo dez polícias, e vários feridos. Os manifestantes atacaram prédios públicos, a câmara municipal, a sede do partido do primeiro-ministro, e o gabinete do presidente do parlamento”, disse Aziz Mahamat Saleh.
As manifestações na capital do país foram convocadas por organizações da sociedade civil, partidos políticos e líderes religiosos, que exortam os cidadãos a expressar pacificamente o seu descontentamento com a decisão do Governo em prolongar o período de transição política no Chade.
O Exército e a Polícia tomaram as ruas da capital e responderam aos protestos de hoje, que tinham sido proibidos pelas autoridades, com munições e gás lacrimogéneo.
Horas antes, Enock Nodjiadoum, ativista da oposição e membro da equipa encarregada de organizar os protestos, citado pela AFP, disse que havia a registar pelo menos sete mortos e 58 feridos.
“Os militares no poder comprometeram-se a devolver o poder a civis no prazo de 18 meses. O dia 20 de outubro marca hoje o fim destes 18 meses de transição e é por isso que estamos nas ruas para exigir a saída do poder de (Presidente de transição) Mahamat Idriss Deby Itno”, disse Eloge Mianbé, uma jovem manifestante.
Paris já veio a público condenar a violência na capital do Chade. “A violência ocorreu esta manhã, no Chade, e incluiu a utilização de armas letais contra manifestantes, o que a França condena”, referiu o Ministério dos Negócios Estrangeiros, que reiterou que o país não desempenhou “qualquer papel nestes acontecimentos”.
Num comunicado, a delegação da União Europeia (UE) no Chade apelou, na quarta-feira, ao “diálogo” e à prevenção de “atos de violência” e recordou a sua defesa do “exercício das liberdades públicas, respeitando os princípios do Estado de direito”.
No dia 10 de outubro, Déby Itno anunciou a formação de um “Governo de unidade nacional” no seu discurso inaugural como Presidente de transição.
O atual chefe de Estado prometeu um referendo constitucional e eleições que, após o fim da transição, seriam organizadas “de forma transparente e calma” para “assegurar o regresso à ordem constitucional”.
O Chade tem estado sob a liderança do Conselho Militar de Transição (CMT, junta militar) desde a morte do Presidente Idriss Déby nos combates entre grupos rebeldes e o exército, em abril de 2021.
Após a tomada de posse, o CMT, liderado por Mahamat Idriss Déby Itno, 38 anos, filho do falecido Presidente, anulou a Constituição e dissolveu o Governo e o parlamento.
Durante o diálogo nacional foi acordado dissolver o CMT e prolongar a transição por mais dois anos, embora fosse suposto durar 18 meses e terminar hoje, em 20 de outubro.
O diálogo foi amplamente criticado e boicotado pelos partidos da oposição e movimentos rebeldes, por não o considerarem inclusivo.
Desde o início, Déby Itno tem tido o apoio da comunidade internacional, liderada pela França, a UE e a União Africana, uma vez que o exército chadiano é um dos pilares da guerra contra os grupos terroristas na região do Sahel, juntamente com as tropas francesas da missão Barkhane.