Milhares de pessoas se reuniram neste sábado (20/08) no palácio real de KwaKhangelamankengane, na África do Sul, para testemunhar a coroação de Misuzulu Zulu como novo rei do povo zulu.
O zulus somam 11 milhões de pessoas e representam quase um quinto da população total da África do Sul. Com 11 línguas oficiais, a África do Sul reconhece na Constituição soberanos e líderes tradicionais, que, apesar de não terem poder executivo, exercem autoridade moral e são reverenciados por seu povo.
No início da manhã, homens e mulheres em trajes tradicionais coloridos começaram a se reunir do lado de fora do palácio de mármore nas colinas de Nongoma, uma pequena cidade na província de KwaZulu-Natal, no sudeste do país, o coração da nação zulu.
Fileiras de guerreiros zulus conhecidos como amaButho passaram horas realizando danças de guerra aguardando a aparição do rei, enquanto as mulheres cantavam e dançavam.
O rei finalmente apareceu diante da multidão, segurando uma lança e um escudo e uma roupa com penas pretas.
"Hoje a nação zulu inicia um novo capítulo. Prometo que trabalharei para unir a nação zulu", disse o novo rei aos presentes.
Na noite anterior, Misuzulu havia entrado no chamado "curral de gado" do palácio - uma espécie de templo da nação zulu - para um rito secreto destinado a apresentar o novo rei a seus ancestrais.
Uma amarga disputa familiar pelo trono chegou a ofuscar a cerimônia. O pai de Misuzulu, o rei Zwelithini, morreu em março do ano passado, aos 72 anos, após 50 anos no cargo, deixando seis esposas e pelo menos 28 filhos.
Misuzulu é o primeiro filho da terceira esposa de Zwelithini, que o falecido monarca havia designado como regente em seu testamento. Mas a rainha morreu repentinamente um mês depois, deixando um testamento nomeando Misuzulu como o próximo rei.
De acordo com a mídia sul-africana, a rainha-mãe Mavis MaZungu e o príncipe Philemon prometeram seu apoio ao rei.
No entanto, a rainha Sibongile Dlamini, a primeira esposa do falecido rei, apoiou seu filho, o príncipe Simakade Zulu, como herdeiro legítimo. Alguns dos irmãos do falecido rei, por sua vez, apresentaram um terceiro príncipe como seu candidato ao trono.
Mesmo quando as comemorações começaram, um ramo da família real ainda tentava interromper a cerimônia na Justiça, mas o pedido foi rejeitado pelo Supremo Tribunal de Apelação da África do Sul.
Em março, o Tribunal Superior em Pietermaritzburg, capital da província de KwaZulu-Natal, sudeste do país, já havia indeferido uma ação apresentada por Dlaminique pretendia contestar o testamento do seu marido, exigindo metade da fortuna do antigo monarca.
Embora o título de rei não confira poder executivo, os monarcas exercem grande influência moral sobre mais de 11 milhões de zulus, que representam quase um quinto da população da África do Sul. A nação zulu é reconhecida historicamente pela resistência ao colonialismo britânico no reinado do monarca Shaka kaSenzangakhona, também conhecido por Shaka Zulu, entre 1816 e 1828.
Misuzulu também herdará uma fortuna e terá uma rica fonte de renda. Seu pai Zwelithini recebia cerca de 71 milhões de rands (US$ 4,2 milhões) por ano do governo e possuía vários palácios e outras propriedades. Um truste real administra quase três milhões de hectares de terras.
O presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, que em março reconheceu Misuzulu como o rei legítimo, deve certificar formalmente a coroação em outra cerimônia nos próximos meses. Além da preservação histórica da cultura do povo zulu, o KwaZulu-Natal é também um dos bastiões eleitorais do Congresso Nacional Africano (ANC), partido no poder na África do Sul desde 1994.