Uma parte significativa da ajuda militar ocidental enviada à Ucrânia não chega ao front, e os países doadores muitas vezes não conseguem controlar seu uso, disseram várias pessoas a um documentário
filmado pelo canal de televisão americano CBS.
O documentário revela que há suspeitas de que algumas das armas
acabam no mercado clandestino. Ele também aponta que, se o conflito terminar em vitória russa, elas podem cair em "mãos erradas" e se tornar fonte de instabilidade, como já aconteceu na Líbia, Iraque ou Afeganistão.
"Posso dizer, sem sombra de dúvida, que as unidades da linha de frente não entendem isso. drones, switchblades, coletes, capacetes. Parece que, se você não consegue ver para onde todas essas coisas estão indo, então, sim, parece um buraco negro", diz
Andy Milbourne, veterano do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, que criou e lidera o grupo Mozart, que treina os militares ucranianos.
Jonas Ochman, outro entrevistado pelo documentário, estima que apenas 30% da ajuda enviada chega ao seu destino. A organização de voluntários Azul e Amarelo, chefiada por ele, arrecada dinheiro no Ocidente para ajudar as forças de segurança ucranianas e importa para o país drones, miras térmicas, roupas de proteção, miras colimadoras e outros equipamentos.
Ochman lamenta a corrupção, a burocracia e os jogos políticos que atrapalham uma cadeia de suprimentos eficiente. O documentário mostra como um pequeno comboio que transportava ajuda estrangeira para a linha de frente foi forçado a se dispersar e voltar após o fogo russo.
Donatella Rovera, conselheira da
organização de direitos humanos da Anistia Internacional, diz que não há dados sobre a distribuição de ajuda militar.
"Mas o que é ainda mais preocupante é que pelo menos alguns dos países que enviam armas não parecem pensar que é sua responsabilidade colocar em prática um mecanismo muito eficiente para saber como esses carregamentos estão sendo usados hoje e como eles podem e serão usados amanhã", disse ela.
"Essas perguntas não são apenas apropriadas, mas absolutamente necessárias. Se olharmos para trás, veremos muitos casos diferentes no Afeganistão, Líbia, Iraque, quando armas destinadas a um propósito foram usadas de maneira diferente", acrescentou Rovera.
Como exemplo, ela citou a captura da grande cidade iraquiana de Mossul por terroristas do grupo Estado Islâmico (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países), quando obtiveram armas ocidentais modernas recebidas pelos militares locais dos Estados Unidos.
Somente os Estados Unidos forneceram US$ 8 bilhões (cerca de R$ 40 bilhões) em ajuda militar à Ucrânia. Em meados de julho, o Pentágono admitiu que não estava monitorando as armas sendo transferidas, mas não viu "nenhuma evidência de que elas estejam sendo usadas em qualquer outro lugar além de combater os russos".
O presidente russo, Vladimir Putin, disse que a Rússia "ouviu muito que o Ocidente quer lutar contra nós até o último ucraniano". Segundo ele, isso é uma tragédia para todo o povo ucraniano, "mas parece que tudo está caminhando para isso".
O vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitry Medvedev, observou que os Estados Unidos, em resposta à operação especial da Rússia, declararam uma "guerra por procuração", fornecendo armas à Ucrânia e mantendo ali um frenesi militarista para que Kiev "lutasse até o último ucraniano", enquanto os interesses dos Estados Unidos ou da Europa, neste caso, não sofrem.
O porta-voz do presidente da Rússia, Dmitry Peskov, observou que o fornecimento de armas dos EUA à Ucrânia não contribui para o despertar do desejo de Kiev de retomar as negociações de paz.
Segundo o secretário do Conselho de Segurança, Nikolai Patrushev, os americanos estão usando o conflito provocado e acalorado entre a Rússia e a Ucrânia para resolver seus problemas políticos e econômicos. A campanha global lançada contra a Rússia prova que a Ucrânia foi apenas um pretexto para o Ocidente desencadear abertamente uma guerra híbrida destinada a enfraquecer e isolar a Rússia, acredita Patrushev.