“As autoridades etíopes não devem poupar esforços para garantirem que os autores destes assassinatos sejam levados à justiça”, refere um comunicado do diretor da organização não-governamental Amnistia Internacional (AI) para a África Meridional, Deprose Muchena.
Segundo Muchena, os “horríveis assassinatos” revelam “um total desprezo dos perpetradores pelas vidas humanas”.As testemunhas entrevistadas pela AI, assim como o governo etíope, atribuíram o massacre aos membros do Exército de Libertação de Oromo (OLA) que já negaram os atos de que são acusados.O ataque ocorreu na manhã do dia 18 de junho nas aldeias de Tole e Kebele sendo que a maior parte dos homens já tinham deixado as casas para irem trabalhar nos campos de cultivo, indicaram as testemunhas e familiares das vítimas.
A maior parte das vítimas foram mulheres e crianças.
“Todas as testemunhas entrevistadas pela AI disseram que perderam um ou vários familiares durante o massacre, a maioria eram mulheres e crianças”, indica a organização de defesa de direitos humanos com sede em Londres.
“Mataram 42 pessoas num só local onde só se encontrava um homem adulto. O resto eram mulheres e crianças. Encontramos os corpos empilhados. Entre os mortos estavam recém-nascidos”, disse Hussein (nome fictício por questões de segurança), cujo depoimento foi registado pela AI.
Hussein, 64 anos, identificou um total de 22 familiares mortos: filhos e netos.
As testemunhas acusam os elementos do OLA de massacre porque os atacantes usavam o “típico cabelo comprido com tranças”, uniformes militares e falavam oromo entre eles.
Além da matança, os atacantes também queimaram casas e roubaram gado, dinheiro e cereais.
De acordo com o relatório da AI, as forças de segurança governamentais só atuaram no local cinco horas após o massacre apesar de os residentes terem informado de imediato os funcionários regionais.
“A impunidade generalizada na Etiópia está a gerar ciclos de violência”, lamentou Muchena que pediu ao governo de Adis Abeda acesso total à zona por parte dos investigadores da Comissão Internacional de Especialistas em Direitos Humanos do Conselho de Segurança da ONU.
Além do massacre de junho, no dia 04 de julho, pelo menos 320 pessoas morreram num outro ataque atribuído ao OLA na localidade de Kelem Welega, região de Oromia, disse à agência de notícias espanhola Efe um residente da zona.
O autodenominado Exército de Libertação do Oromia resulta de uma cisão da Frente de Libertação Oroma (OLF) depois do grupo, que pede a autodeterminação, ter iniciado a participação política a nível nacional a convite do primeiro-ministro Abiy Ahmede, em 2018.
Desde essa altura o OLM foi considerado “grupo terrorista” pelo executivo que pretende neutralizar a organização tendo “matado mais de mil elementos”, de acordo com dados fornecidos pelo primeiro-ministro numa intervenção no Parlamento, em junho.
Além da violência entre comunidades, o país enfrenta um período de grande violência marcado pela guerra no Tigré que se prolonga desde 2020 entre os grupos armados da região norte da Etiópia e o governo federal. Lusa/RTP