Traduzido por Julio Batista
Original de Issam Ahmed (AFP) para o ScienceAlert
Conhecida como GLASS-z13, a galáxia remonta a 300 milhões de anos após o Big Bang, cerca de 100 milhões de anos antes de qualquer outra galáxia identificada anteriormente, disse à AFP Rohan Naidu, do Centro de Astrofísica de Harvard. “Estamos potencialmente olhando para a luz das estrelas mais distante que alguém já viu”, disse ele.
Quanto mais distantes os objetos estão de nós, mais tempo leva para que sua luz nos alcance e, assim, olhar de volta para o universo distante é ver o passado profundo.
Embora GLASS-z13 existisse na era mais antiga do Universo, sua idade exata permanece desconhecida, pois poderia ter se formado a qualquer momento nos primeiros 300 milhões de anos.
GLASS-z13 foi vista nos chamados dados de “lançamento antecipado” do principal sensor infravermelho do observatório em órbita, chamado NIRcam – mas a descoberta não foi revelada no primeiro conjunto de imagens publicado pela NASA na semana passada.
Quando traduzida do infravermelho para o espectro visível, a galáxia aparece como uma bolha vermelha com um ponto branco no centro, como parte de uma imagem mais ampla do cosmos distante chamada “campo profundo”. Naidu e seus colegas – uma equipe totalizando 25 astrônomos de todo o mundo – enviaram suas descobertas para uma revista científica.
Por enquanto, a pesquisa foi postada em um servidor de pré-publicação, então vem com a ressalva de que ainda não foi revisada por pares – mas já deixou a comunidade global de astronomia agitada.
“Os recordes de astronomia já estão sendo quebrados, e mais são estão pertos disso”, twittou o cientista-chefe da NASA, Thomas Zurbuchen.
“Sim, eu costumo torcer apenas quando a ciência resulta em uma revisão por pares clara. Mas isso parece muito promissor”, acrescentou.
Naidu disse que outra equipe de astrônomos liderada por Marco Castellano que trabalhou nos mesmos dados chegou a conclusões semelhantes, “o que nos dá confiança”.
Uma das grandes promessas do Webb é sua capacidade de encontrar as primeiras galáxias que se formaram após o Big Bang, há 13,8 bilhões de anos.
Por estarem tão distantes da Terra, no momento em que sua luz nos atinge, ela foi esticada pela expansão do Universo e deslocada para a região infravermelha do espectro de luz, que o Webb está equipado para detectar com clareza sem precedentes.
Naidu e seus colegas vasculharam esses dados infravermelhos do Universo distante, procurando uma assinatura reveladora de galáxias extremamente distantes.
Abaixo de um determinado limite de comprimento de onda infravermelho, todos os fótons – cheios de energia – são absorvidos pelo hidrogênio neutro do Universo que fica entre o objeto e o observador.
Usando dados coletados através de diferentes filtros infravermelhos apontados para a mesma região do espaço, eles conseguiram detectar onde ocorreram essas quedas de fótons, a partir do qual inferiram a presença dessas galáxias mais distantes.
“Pesquisamos todos os dados iniciais de galáxias com essa assinatura muito impressionante, e esses foram os dois sistemas que tinham, de longe, a assinatura mais convincente”, disse Naidu.
Um deles é o GLASS-z13, enquanto o outro, não tão antigo, é o GLASS-z11.
“Há fortes evidências, mas ainda há trabalho a ser feito”, disse Naidu.
Em particular, a equipe quer pedir aos responsáveis pelo Webb um tempo para realizar espectroscopia – uma análise da luz que revela propriedades detalhadas – para medir sua distância precisa.
“No momento, nosso palpite para a distância é baseado no que não vemos – seria ótimo ter uma resposta para o que vemos”, disse Naidu.
No entanto, a equipe já detectou propriedades surpreendentes.
Por exemplo, a galáxia tem a massa de um bilhão de sóis, o que é “potencialmente muito surpreendente, e isso é algo que realmente não entendemos”, dado o quão logo após o Big Bang ela se formou, disse Naidu.
Lançado dezembro passado e estando totalmente operacional desde a semana passada, o Webb é o telescópio espacial mais poderoso já construído, com os astrônomos confiantes de que anunciará uma nova era de descobertas.
© Agence France-Presse