A estatal russa Rosatom iniciou a construção da primeira usina nuclear do Egito, enquanto a nação norte-africana equilibra seus laços com o Kremlin e aliados ocidentais que sancionaram Moscou pela guerra na Ucrânia.
O trabalho começou na primeira das quatro unidades de energia de 1.200 megawatts que serão construídas em El Dabaa, 300 quilômetros a noroeste de Cairo, de acordo com um comunicado da Rosatom. A empresa é a maior fornecedora mundial de combustível e reatores nucleares e não foi sancionada pelos EUA ou pela Europa.
A Rússia tem um histórico de buscar projetos de energia de grande escala no Egito, muitas vezes como parte de um esforço mais amplo para desafiar a influência política, militar e econômica dos EUA. A União Soviética ajudou a construir a Represa Alta de Assuã na década de 1960.
O presidente russo Vladimir Putin e seu colega egípcio Abdel-Fattah El-Sisi estiveram presentes quando os países assinaram um acordo para os reatores em 2017, quando o custo foi estimado em US$ 30 bilhões, muitos dos quais deveriam ser financiados com um empréstimo de Moscou.
Cinco anos depois, a economia russa está sob amplas sanções, mas sustentada por uma vasta receita das vendas de petróleo e gás.
O Egito desenvolveu laços econômicos mais fortes com a Rússia desde que El-Sisi se tornou presidente em 2014, mantendo vínculos históricos com parceiros no Ocidente. Este ano, participou do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo e comprou quantidades substanciais de trigo da Rússia, enquanto assina um acordo com Israel para aumentar as vendas de gás para a União Europeia, à medida que o bloco busca reduzir sua dependência das importações de energia de Moscou.
O projeto Rosatom foi adiado depois que um atentado em 2015 contra um avião russo que sobrevoava o Egito matou 224 turistas. Os voos entre os dois países só foram retomados no ano passado, proporcionando um benefício para a indústria turística do Egito, que anteriormente atraiu um grande número de visitantes russos.
A Rosatom fornecerá combustível nuclear para cada um dos quatro reatores ao longo da vida operacional da usina, de acordo com um anúncio anterior.
A invasão da Ucrânia pela Rússia e as subsequentes sanções dos EUA e da Europa pouco fizeram para desencorajar o interesse internacional na tecnologia da empresa. Além do Egito, a empresa controlada pelo Kremlin tem projetos avançados na Hungria e em Mianmar desde o início do conflito.
Em 2020, a Rosatom disse que escolheu três empresas egípcias para ajudar na construção da fábrica localizada na costa do Mediterrâneo.