A França relembra neste domingo (17/07) o 80º aniversário de um dos episódios mais vergonhosos da sua história recente: a cumplicidade de autoridades e forças policiais do país na infame prisão em massa de judeus durante o Holocausto, no episódio conhecido como "batida do Vel d'Hiv".
Entre 16 e 17 de julho, durante a ocupação nazista, a polícia francesa prendeu 13.152 pessoas, incluindo 4.115 crianças, que foram enviadas primeiro para o velódromo de inverno de Paris, uma pista de ciclismo coberta. Foi a maior operação desse tipo na Europa Ocidental. Os presos acabaram sendo deportados para o campo nazista de Auschwitz. Apenas algumas dezenas sobreviveram.
Desta vez, local escolhido para relembrar o episódio infame, no entanto, foi a antiga estação ferroviária que foi usada pela Alemanha nazista para deportar uma parte dos prisioneiros para a Polônia ocupada.
Neste domingo, Macron se juntará a alguns dos poucos sobreviventes que passaram pela estação de Pithiviers, 100 quilômetros ao sul de Paris.
A estação não atende passageiros desde o final da década de 1960 e foi convertida em um memorial, que foi inaugurado no início deste mês.
O gabinete de Macron disse que o presidente fará um discurso que deve abordar a ameaça duradoura de antissemitismo, que "ainda se esconde e às vezes de maneira insidiosa".
Uma autoridade disse que o presidente também pretende "revisionismo histórico", particularmente quando se trata do papel do antigo líder da França Philippe Pétain, que colaborou com o regime nazista.
Além de Macron, devem participar da cerimônia o conhecido caçador de nazistas Serge Klarsfeld, cujo pai foi um dos deportados para Auschwitz, a sobrevivente do campo Ginette Kolinka e o chefe da rede ferroviária da França, Jean-Pierre Farandou.
Alguns dos 13.000 judeus presos em Paris e seus subúrbios por oficiais franceses por ordem dos ocupantes nazistas passaram pela estação de Pithiviers. Destes, 4.115 eram crianças.
O episódio ficou conhecido como a "batida do Vel d'Hiv" porque a polícia francesa levou a maioria das vítimas judias - 8.160 pessoas, incluindo idosos e doentes - para uma pista de ciclismo no 15º arrondissement de Paris, o Velodrome d'Hiver.
Os prisioneiros foram mantidos lá em condições extremas, quase sem comida e água e sem instalações sanitárias, durante o auge do verão europeu.
Eles foram levados de lá para campos em Pithiviers e outros locais antes de serem finalmente transferidos para campos de concentração nazistas em vagões ferroviários de gado. Apenas algumas dezenas voltaram para França ao final da guerra.
Em 1995, o então presidente francês Jacques Chirac pediu perdão pela cumplicidade de policiais e funcionários públicos franceses na operação. Em 2017, Macron, ao lado do então premiê israelense Benyamin Netanyahu, admitiu especificamente a responsabilidade do Estado francês no episódio. Na ocasião, Macron sublinhou que as prisões tinham sido da inteira responsabilidade do então governo colaboracionista de Vichy.