Cerca de 89 pessoas morreram em confrontos envolvendo gangues que paralisaram parte da capital do Haiti , Porto Príncipe, desde a semana passada. Os números foram divulgados nesta quarta-feira pela ONG Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos.
Em comunicado, a organização afirma que 74 pessoas ficaram feridas “por armas brancas e disparos de arma de fogo”, e que 16 seguem desaparecidas.
Os confrontos começaram no dia 7 de julho, e envolveram grupos criminosos rivais em Cité Soleil, uma das regiões mais pobres e populosas da capital haitiana. A data também marcou um ano do assassinato do presidente Jovenel Moïse, executado dentro da residência oficial, em um crime que parece longe de ser resolvido.
O ataque agravou um estado de colapso institucional já vivido pelos haitianos, com poderes inoperantes e questionamentos sobre quem estava de fato no comando do país. A recente alta dos preços dos alimentos e a falta de combustíveis acrescentou fatores à crise social e, especialmente, de segurança.
Sem o Estado nas ruas, as gangues aumentaram sua presença no país, e frequentemente se enfrentam. Segundo um levantamento da ONU, divulgado em maio, 188 pessoas foram mortas entre os dias 24 de abril e 26 de maio, sendo que metade das vítimas não faziam parte de nenhuma organização criminosa.
No mês passado, uma gangue assumiu o controle de um tribunal de justiça, destruindo processos e provas de crimes.
Em um apelo ao Conselho de Segurança, em junho, a principal representante da ONU no Haiti, Helen La Lime, afirmou que a situação estava se deteriorando rapidamente, citando os assassinatos e uma média diária de sete sequestros. Para ela, os países da ONU precisam fornecer algum tipo de assistência de segurança de forma urgente.
“A persistente e aprofundada sensação de insegurança, exacerbada pela falta de capacidade [ da Polícia Nacional do Haiti] para enfrentar a situação, e a impunidade com que crimes são cometidos, estão destruindo o Estado de direito”, disse La Lime, no dia 16 de junho.
A crise de segurança também afeta a entrega de ajuda humanitária à população, assim como a prestação de assistência médica. À AFP, Mumuza Muhindo, chefe da missão local da ONG Médicos Sem Fronteiras, revelou ter feito um apelo às gangues para que permitam a passagem segura de médicos a uma área de Cité Soleil. Ele relatou ainda que seus colegas viram cadáveres queimados ou em decomposição nas ruas.
“É um verdadeiro campo de batalha. É impossível estimar quantas pessoas foram assassinadas”, afirmou.
* Com informações de agências internacionais