A maioria dos produtores de grãos tem pouco conhecimento sobre as bases técnicas da agricultura conservacionista, o que exige a necessidade de ampliar a divulgação sobre o tema, assim como a utilização pelos agricultores. A conclusão é apresentada em artigo científico publicado na Revista Brasileira de Ciência do Solo por pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná — Iapar-Emater (IDR-Paraná) e da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Os pesquisadores entrevistaram 234 agricultores da bacia hidrográfica do Rio Paraná 3 com o objetivo de avaliar se eles conhecem e aplicam três princípios da agricultura conservacionista: plantio direto, manutenção permanente de cobertura vegetal no solo e rotação de culturas com diversificação de espécies. Os agricultores foram entrevistados pessoalmente, respondendo um questionário de 30 perguntas.
Com oito mil quilômetros quadrados, a Bacia do Paraná 3, escolhida para o estudo, estende-se de Guaíra (Noroeste) a Foz do Iguaçu (Sudoeste do Estado). Abriga 24.150 propriedades, distribuídas em 29 municípios — 28 do Paraná e um do Mato Grosso do Sul.
A definição do número de produtores para o estudo seguiu parâmetros estatísticos e metodológicos bem estabelecidos na literatura sobre esse tipo de estudo.
RESULTADOS– Apenas 33% dos produtores entrevistados demonstraram conhecimento dos três pilares da agricultura conservacionista. Dentre aqueles que não dominam os conceitos, 29% desconheciam apenas um; 26%, dois; e 12% não conseguiram listar sequer um dos fundamentos.
O plantio direto apareceu como a prática mais conhecida pelos entrevistados, seguida da cobertura do solo e, por último, a rotação de culturas.
A maioria dos entrevistados avaliou como “bom” o manejo de plantio direto na sua propriedade, e considerou como “altamente importantes” os benefícios da agricultura conservacionista, especialmente a mitigação dos riscos de erosão e economia de tempo nas operações agrícolas.
No entanto, para metade dos entrevistados a adoção de técnicas conservacionistas não promove redução dos custos de produção, aumento de rendimento ou diminuição de perdas em períodos de estiagem.
A semeadura em nível é adotada por 80% dos agricultores entrevistados, e 97% deles implantaram terraços. No entanto, 41% dos entrevistados fazem pulverização no sentido da encosta.
Em ordem decrescente de importância, os agricultores apontaram como obstáculos a compactação do solo nas cabeceiras, dificuldade no controle de plantas daninhas, manutenção da cobertura do solo e a rotação de culturas. Metade dos agricultores entrevistados considerou muito ou moderadamente difícil adotar a rotação de culturas.
“O Sul do Brasil tem chuvas intensas e o plantio direto, somente, não é suficiente para conter a erosão. É preciso agregar práticas como plantio em nível, terraços e uso de plantas de cobertura”, aponta a pesquisadora Graziela Moraes de Cesare Barbosa.
PESQUISA –Esse tipo de estudo permite entender o que os agricultores conhecem, pensam e fazem. São informações imprescindíveis para compreender os desafios e buscar soluções no desenvolvimento e transferência de tecnologias. “Embora trate de uma bacia hidrográfica específica, é possível que as conclusões deste estudo retratem a realidade de grande parte das regiões produtoras de grãos no Paraná”, afirma Tiago Santos Telles, pesquisador da área de socioeconomia do IDR-Paraná.
Participaram da pesquisa que resultou no artigo“Soil management practices adopted by farmers and how they perceive conservation agriculture”Ana Julia Righetto e Elizeu Jonas Didoné, bolsistas do IDR-Paraná, juntamente com o professor Thadeu Rodrigues de Melo, ligado à UEL.
O artigo completo pode ser acessado AQUI . Texto em inglês.