Internacional Chile
Gabriel Boric é empossado no Chile em mudança histórica
“Temos um grande dever diante do povo chileno e daremos nosso melhor para estamos à altura”, disse mandatário após a posse
13/03/2022 12h48 Atualizada há 3 anos
Por: Redação Fonte: https://novocantu.com.br/noticia/123905/asteroide-atingiu-a-terra-nesta-sexta-2-horas-depois-de-ser-descoberto

Gabriel Boric tomou posse nesta sexta-feira (11/03) como presidente do Chile, recebendo o cargo do agora ex-presidente bilionário Sebastián Piñera em uma cerimônia no Congresso, localizado no porto de Valparaíso, a 150 km de Santiago. Boric, de 36 anos, é o mandatário mais jovem da história do país e assumiu sob uma cerimônia atravessada de simbologia épica.

Durante a cerimônia, após a transmissão da faixa presidencial, o gabinete de ministros de Boric, que tem maioria feminina (14 de 24), também foi empossado, com delegações dos Estados Unidos, Espanha, Argentina, Peru e outros presentes. “Estou profundamente orgulhoso desse gabinete, orgulhoso de que haja mais mulheres do que homens, isso graças ao movimento feminista”, disse o novo presidente.

A chegada do seu Ministério feminista acontece um dia após uma das votações mais aguardadas da Convenção Constitucional: na quinta-feira, o plenário aprovou “o direito de decidir livre, autônoma e informada sobre o próprio corpo, sobre o exercício da sexualidade, reprodução, prazer e contracepção”. Além do direito ao aborto legal e seguro, foi aprovado o artigo que estabelece a educação sexual como um direito fundamental. As normas ainda precisam serem votadas separadamente para serem incluídas na nova Carta, o que deve acontecer na terça-feira.

O mandato de Boric dura quatro anos e vai até 2026. No Chile, não há possibilidade de reeleição imediata – porém, é permitido que, após um período de quatro anos fora do governo, haja uma nova candidatura.

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Na platéia estava sua família e sua companheira Irina Karamanos, ativista feminista do partido de Boric, Convergência Social. Ao sair do prédio, a primeira pessoa que Boric cumprimentou foi a senadora recém-eleita Fabiola Campillai, a mulher que ficou cega pela ação policial no contexto do surto social de 2019.

Ele foi seguido pelos ex-presidentes Ricardo Lagos e Eduardo Frei, que entraram o Congresso juntos, e a ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, foi especialmente convidada para a cerimônia por Boric. Havia também o candidato presidencial Gustavo Petro, que chegou junto com a delegação argentina do presidente Alberto Fernández. Pedro Castillo, o novo presidente do vizinho Peru e a famosa escritora chilena Isabel Allende também prestigiaram a posse. O rei Felipe VI, representante da Espanha, foi um dos últimos da longa fila de carros oficiais que se formou em frente ao Congresso.

Na saída do Congresso, o mandatário disse estar “muito emocionado e com um grande sentido de responsabilidade”. “Temos um grande dever diante do povo chileno e daremos nosso melhor para estamos à altura”, afirmou.

Os chilenos esperam que Boric enterre o legado neoliberal dos anos 1970 e avance em direção a um país mais igualitário, com maior presença do Estado em questões básicas como saúde, e promova a defesa do meio ambiente e uma agenda feminista.

Palavras para o povo

O discurso de posse aconteceu na noite da sexta-feira, do balcão do Palácio de La Moneda. Ao receber a faixa presidencial, Boric foi bastante aplaudido pelo público que não havia em Valparaíso, devido a precauções do governo Piñera com protestos contra o ex-presidente.

“Hoje os sonhos de milhões de pessoas estão aqui nos empurrando para levar a cabo as mudanças que a sociedade exige”, disse Boric a uma multidão reunida na Plaza de la Constitución.

Entretanto, ele reconheceu que não será fácil alcançar os objetivos porque o país está enfrentando uma crise interna e externa.

“Vamos viver tempos desafiadores e tremendamente complexos. A pandemia (de Covid-19) continua o seu curso com o custo da dor e da perda de vidas e estará conosco por um longo tempo”, advertiu ele.

Ele acrescentou que a economia continua a sofrer e o país precisa crescer e distribuir os frutos de forma justa porque quando a riqueza se concentra em poucos, a paz é muito difícil de alcançar.

Ele mencionou entre suas prioridades a redução da desigualdade social, o combate ao crime, a reforma da polícia e a melhoria da saúde e da educação.

Com relação à crise migratória no norte do país, ele prometeu recuperar o controle das fronteiras e trabalhar com países irmãos para enfrentar coletivamente as dificuldades que levam ao êxodo de milhares de seres humanos.

Sobre a situação em La Araucanía, ele considerou injusto falar sobre o conflito mapuche.

“Não, senhores, não é o conflito Mapuche. É o conflito entre o Estado chileno e um povo que tem o direito de existir. E aí a solução não é e não será violência. Trabalharemos incansavelmente para reconstruir a confiança após tantas décadas de abuso e despossessão”, disse ele.

Boric também prometeu acompanhar entusiasticamente o processo rumo a uma nova constituição para substituir a que existe desde a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

“Precisamos de uma Constituição que nos una, que nos sinta como nossa, que, ao contrário daquela imposta com sangue, fogo e fraude pela ditadura, nasça na democracia, de forma paritária, com a participação dos povos indígenas”, disse ele.

O novo presidente expressou sua decisão de trabalhar em conjunto com os países vizinhos para enfrentar os enormes desafios. “Somos profundamente latino-americanos e deste continente faremos esforços para que a voz do Sul seja novamente ouvida com firmeza em um mundo em mudança”, declarou ele.

Desafio da transição

Boric é o ex-militante estudantil que assumirá as rédeas enquanto a nação sul-americana passa por uma importante transição política e social. Ele assume o governo de um país que busca mudanças após os protestos em massa de 2019, que ele apoiou, contra a desigualdade profundamente enraizada em renda, saúde, educação e aposentadorias.

Seu governo vai supervisionar um referendo sobre uma nova constituição chilena, que ficará pronta em julho, que uma assembléia constituinte eleita está atualmente reescrevendo para substituir a Carta Magna posta em prática pela ditadura de Augusto Pinochet. Pinochet removeu o presidente socialista Salvador Allende, que se suicidou em 1973 durante um golpe militar e cujo legado Boric sempre elogiou.

A chegada de Boric a La Moneda representa vários marcos. Pela primeira vez, uma mulher, Izkia Siches, será a ministra do Interior, uma pasta de primeira linha que é responsável pela liderança política e segurança pública. A neta de Salvador Allende, Maya Fernández, ocupará o Ministério da Defesa, num gesto simbólico e político diante do trágico golpe militar de 1973. Com o novo Governo, por sua vez, o Partido Comunista volta à vanguarda do poder político, espaço que não ocupava desde a Unidade Popular de Allende. Fará isso com Camila Vallejo como porta-voz, um dos cargos mais importantes de La Moneda, e com a integração de dois militantes comunistas à frente das pastas Ciência e Trabalho. O Executivo de Boric estreia-se por sua vez com a incorporação do mundo socialista, que não pertence ao bloco de origem que o levou à presidência,

O novo Governo terá que lidar com as grandes expectativas que gerou –foi eleito com 55% dos votos–, e com enormes desafios imediatos, como uma economia em declive, la crise migratória no norte e episódios de violência na Araucanía, no sul. Para reduzir os temores da direita de um governo que terá o Partido Comunista entre seus parceiros, Boric colocou a economia nas mãos de Mario Marcel, um socialista moderado respeitado em todo o espectro político. 

Uma das primeiras decisões do atual Governo, antecipada na noite de quinta-feira, foi retirar as 139 denúncias da Lei de Segurança do Estado (LSE) apresentadas no âmbito do surto social contra pessoas detidas por violência, algumas acusadas ou condenadas por crimes graves. A decisão, em linha com as promessas de campanha, provocou críticas da oposição atual.

O novo presidente terá que lidar com um bloco ultraconservador em ascensão que se saiu bem nas eleições do ano passado e encontrar um consenso para promover suas reformas. Segundo analistas, é um governo que chega ao poder em um clima político muito fragmentado, que não tem maioria parlamentar e, portanto, não pode fazer reformas muito radicais no curto prazo. A aliança pela qual Boric se elegeu, formada pela Frente Ampla e pelo Partido Comunista, elegeu no pleito legislativo em novembro apenas 37 dos 120 deputados.

Mas ambientalistas e defensores das comunidades indígenas saudaram a presidência de Boric como uma oportunidade para promover uma maior proteção desses direitos. Uma parte do Senado na sexta-feira estava cheia de representantes de várias comunidades indígenas do Chile em trajes tradicionais.

Primeiros compromisso

Os primeiros compromissos de Boric foram às 8h30 (hora de Santiago, a mesma de Brasília), em um café da manhã com lideranças da cidade de Viña del Mar no palácio presidencial de verão de Cerro Castillo.

Por volta das 11h15, Boric e a agora primeira-dama, Irina Karamanos, foram em direção ao Congresso, na cidade de Valparaíso. 

Após a assunção ao cargo, Boric segue para Viña del Mar, onde irá almoçar com chefes de Estado convidados. Às 18h, o presidente desfilará pela avenida Libertador Bernardo O’Higgins em direção ao Palácio de la Moneda, sede do governo, onde será recepcionado pela Guarda do Palácio.

A previsão é que Boric fale pela primeira vez ao ´pais às 19h, a partir do balcão do palácio.

Veja como foi a posse de Gabriel Boric no Chile:

Com informações de Agência Internacionais