Curiosidade Vênus de Willendorf
Podemos finalmente saber a origem da misteriosa Vênus de Willendorf
Uma escultura antiga esculpida por humanos paleolíticos há cerca de 30.000 anos é evidência de que nossos ancestrais eram um grupo inquieto que vagava por toda parte, revelou uma nova pesquisa.
02/03/2022 09h43
Por: Redação Fonte: https://universoracionalista.org/podemos-finalmente-saber-a-origem-da-misteriosa-venus-de-willendorf/

Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert

Os cientistas observaram atentamente a famosa Vênus de Willendorf e determinaram que a pedra da qual foi esculpida provavelmente se originou no norte da Itália, a centenas de quilômetros de onde foi descoberta na Áustria em 1908. Vênus de Willendorf é instantaneamente reconhecível. A estatueta enigmática, com apenas 11 centímetros de comprimento, é impressionante. Não tem pés ou rosto, mas características físicas exageradas que os antropólogos normalmente associam à fertilidade feminina: seios, genitália e pernas exuberantes. Além disso, a estatueta ostenta um elaborado cocar ou penteado.

O propósito exato da escultura é desconhecido; talvez o artista apenas gostasse de bundas grandes mesmo; mas esse não é o único mistério.

Outras esculturas semelhantes associadas à cultura gravetiana da qual Vênus emergiu tendem a ser esculpidas em marfim ou osso. A Vênus de Willendorf é esculpida em oólito, um tipo de calcário sedimentar composto de grãos esféricos chamados ooides. Também é tingido de vermelho usando ocre.

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Anteriormente, esta escultura só tinha sido estudada do lado de fora. Na nova pesquisa, cientistas liderados pelo antropólogo Gerhard Weber, da Universidade de Viena, na Áustria, usaram a varredura de micro-TC para ver o que há dentro da escultura, com uma resolução de 11,5 micrômetros.

A primeira coisa que descobriram é que a estrutura interna da pedra não é uniforme, mas contém diferentes camadas de sedimentos, com diferentes densidades e tamanhos de grãos.

Imagens da varredura de micro-TC que mostram as inclusões. (Créditos: Gerhard Weber, Universidade de Viena)

Além disso, contém inclusões – pequenos pedaços de conchas e grãos de ferro maiores chamados limonites. Isso significava que os pesquisadores poderiam tentar combinar a rocha com amostras de oólito das regiões vizinhas para delimitar de onde a rocha poderia ter vindo.

Um pequeno remanescente de concha que remonta ao Jurássico permitiu-lhes descartar depósitos mais jovens. O próximo passo foi realizar comparações.

Os pesquisadores coletaram amostras de rocha de uma faixa da Europa que se estende da França à Ucrânia, com cerca de 2.500 quilômetros de diâmetro, e compararam os tamanhos dos grãos com o oólito da Vênus de Willendorf. Fascinantemente, eles descobriram que não havia nada remotamente semelhante dentro de um raio de 200 quilômetros de Willendorf. De fato, a correspondência mais próxima – tão próxima que a rocha é praticamente indistinguível – foi do Lago de Garda, no norte da Itália. Isso significava que Vênus de Willendorf tinha que ter viajado de sul a norte dos Alpes, uma rota que teria cerca de 730 quilômetros de extensão se viajasse ao redor, e não sobre, a região montanhosa.

“As pessoas no Gravetiano – a cultura de ferramentas da época – procuravam e habitavam locais favoráveis”, explicou Weber. “Quando o clima ou a situação da caça mudavam, eles seguiam em frente, de preferência ao longo dos rios.”

Outra possível correspondência para a rocha também foi identificada, mas os pesquisadores acham menos provável – a Ucrânia, a cerca de 1.600 quilômetros de Willendorf. No entanto, não pode ser totalmente descartado.

Cavidades na Vênus de Willendorf. (Créditos: Kern, A. & Antl-Weiser, W. Venus. Editon-Lammerhuber, 2008)

No entanto, embora a proveniência exata do oólito não possa ser determinada definitivamente, o estudo da estrutura interna da escultura forneceu outras novas informações.

Os pesquisadores descobriram que a pedra de Vênus é porosa porque os núcleos dos ooides se dissolveram com o tempo. Eles também descobriram que os limonites são provavelmente a fonte de misteriosas cavidades hemisféricas encontradas na superfície da escultura, uma das quais constitui o umbigo da figura.

“Os limonites duros provavelmente quebraram quando o criador da Vênus estava esculpindo”, disse Weber. “No caso do umbigo de Vênus, [eles] aparentemente aproveitaram isso.”

Claro, a descoberta revela o quão preciosa a escultura deve ter sido para quem a carregou em uma jornada tão longa e árdua.

“O período exato em que a Vênus foi criada ou seu material coletado e transportado é desconhecido”, escreveram os pesquisadores em seu paper.

“No entanto, independentemente do local de origem, podemos afirmar com certeza que seus proprietários individuais o guardaram e protegeram no caminho.”

A pesquisa foi publicada em Scientific Reports.