Segundo país com maior número de jornalistas assassinados em 2021, o México reconheceu pela primeira vez a responsabilidade do Estado na morte de um profissional de imprensa.
A iniciativa foi voluntária, ao contrário do que ocorreu recentemente na Colômbia. Em outubro, o país foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos pelo sequestro e estupro da jornalista Jineth Bedoya (relembre o caso ao final da matéria).
Jiménez Mota era natural de Empalante, no estado de Sonora. Depois de terminar seus estudos na Universidade Autônoma do Oeste, fez seus primeiros trabalhos como jornalista em Culiacán, no estado de Sinaloa.
Algum tempo depois, voltou ao seu estado natal e começou a escrever para o jornal El Imparcial, onde passou a investigar o crime organizado e suas ligações com o poder político.
Em 2 de abril de 2005, quando tinha 25 anos, desapareceu sem deixar vestígios durante o mandato do ex-presidente Vicente Fox. Até hoje seus restos mortais não foram encontradoo e o caso permanece obscuro. As informações são da Federação Internacional de Jornalistas (IFJ).
A cerimônia contou com representantes dos três níveis de governo, que fizeram o pedido público de desculpas aos familiares do jornalista assassinado.
O Subsecretário de Direitos Humanos Alejandro Encinas falou em nome do governo federal, enquanto o Governador de Sonora, Alfonso Durazo, pediu desculpas em nome do estado natal do jornalista e o Presidente Municipal Empalante Luis Fuentes Aguilar em nome de sua cidade.
Além do pedido de desculpas público, o acordo assinado estabelece uma série de medidas. A IFJ destaca como pontos mais importantes a reparação integral aos familiares da vítima, tanto por danos materiais como morais, e a aplicação de ações de justiça e de prevenção para a não repetição do caso.
A capacitação de pessoal do Ministério Público é uma das ações preventivas previstas no acordo. Na área da justiça, se continuará buscando o esclarecimento do caso e a punição dos culpados.
O sindicato nacional de jornalistas do México também se manifestou:
“O SNRP valoriza o pedido público de perdão do Estado mexicano. Ao mesmo tempo, avalia que o gesto é insuficiente para reverter o clima de hostilidade e grave risco em que vivem a população e os jornalistas.
No Dia dos Direitos Humanos, instamos os diferentes níveis de governo a tomar as medidas que salvaguardem a vida e o trabalho dos jornalistas do país.”
O México só ficou atrás do Afeganistão em número de jornalistas assassinados ao longo de 2021, de acordo com o balanço global divulgado pela Federação Internacional de Jornalistas no Dia Internacional dos Direitos Humanos.
E a diferença foi mínima: enquanto no Afeganistão foram registrados os assassinatos de nove jornalistas, muitos em função dos conflitos que levaram o Talibã ao poder, no México foram oito, a maioria vitimados pelo crime organizado.
Os dois países responderam por quase 40% dos 45 assassinatos de jornalistas registrados desde janeiro de 2021. Depois de Afeganistão e México, os dois países mais perigosos para o exercício da profissão foram a Índia, com quatro mortes, e o Paquistão, com três.
Globalmente, o número total de assassinatos de jornalistas em 2021 está menor do que em 2020, quando 65 profissionais foram mortos.
O número de prisões, porém, está maior. O balanço revela que 365 jornalistas estão atrás das grades e aponta a Ásia e a Europa como as regiões com mais profissionais cumprindo penas, alguns sem julgamento.
As duas listas revelam “o aprofundamento da crise no jornalismo, com os direitos e a liberdade dos profissionais de imprensa sob constante ameaça em muitas regiões do mundo”, diz o comunicado da FIJ, que enfatiza:
“Embora a redução dos assassinatos seja uma notícia bem-vinda, é um pequeno consolo em face da violência que continua a ceifar a vida de jornalistas.”
A decisão do México foi voluntária e evitou que o caso pudesse alcançar dimensões como a de uma condenação perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que em outubro tomou uma decisão histórica no combate à impunidade dos crimes contra jornalistas.
A sentença responsabilizou o governo colombiano pelo sequestro, tortura e estupro da jornalista Jineth Bedoya por paramilitares que ela investigava.
Na época, Bedoya tinha 26 anos. Em 25 maio de 2000, ela trabalhava para o jornal El Espectador e fazia uma reportagem sobre tráfico de armas. Foi sequestrada diante de um presídio em Bogotá, onde pretendia entrevistar líderes paramilitares.
A jornalista foi drogada, mantida em cárcere privado e violada sexualmente. Em seguida foi jogada sem roupa à beira de uma estrada.
A Corte Interamericana concluiu que as provas eram “sérias, precisas e consistentes” e condenou o Estado colombiano a pagar uma dupla indenização de US$ 30 mil (R$ 166 mil), em nome da jornalista torturada e da mãe dela.
Além disso, o governo terá que criar um centro de memória para mulheres vítimas da violência e destinar US$ 500 mil (RS 2,7 milhões) para financiar programas voltados para a prevenção, proteção e assistência às jornalistas vítimas de violência no exercício da profissão.
A sentença também determinou a continuidade das investigações para responsabilizar os autores dos crimes e a realização de uma campanha de apoio ao movimento #NoEsHoraDeCallar (Não É Hora de Calar), mantido pela jornalista.
Por seu trabalho em prol dos direitos das mulheres, Bedoya recebeu em 2001 o prêmio Coragem no Jornalismo da Fundação Internacional de Mídia Feminina.
No ano passado, ganhou o Prêmio Unesco-Guillermo Cano para a Liberdade de Imprensa Mundial e a Caneta de Ouro da Liberdade concedido pela Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias.
Jineth Bedoya trabalha hoje no jornal El Tiempo. Por segurança, o governo colombiano designou três guarda-costas e um carro à prova de balas para protegê-la.