A polícia da França prendeu nesta terça-feira (07/12) um homem suspeito de fazer parte do grupo que matou o jornalista saudita Jamal Khashoggi em 2018, no consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia. A prisão foi informada por várias fontes próximas ao caso.
Segundo as mesmas fontes, os investigadores buscam agora confirmar se o homem detido portando um passaporte em nome de Khalid Alotaibi é, de fato, o suspeito com o mesmo nome procurado pela Turquia e sancionado pelos Estados Unidos devido à morte de Khashoggi, cujo assassinato há três anos desencadeou uma onda de indignação global.
Mais tarde, a embaixada saudita em Paris alegou que o cidadão preso não tem qualquer conexão com o caso, acrescentando que o reino aguarda "sua libertação imediata". Segundo a representação diplomática, o Judiciário saudita já condenou "todos os que participaram do hediondo assassinato".
Em setembro de 2020, um tribunal da Arábia Saudita anulou cinco sentenças de morte emitidas após um julgamento a portas fechadas no país, reduzindo a pena dos condenados para 20 anos de prisão.
O homem foi detido pela polícia francesa nesta terça-feira com base em um mandado de prisão emitido pelas autoridades turcas. Ele estava prestes a embarcar em um voo no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, com destino a Riad, capital da Arábia Saudita.
Khalid Alotaibi é um dos 26 sauditas acusados à revelia pela Turquia em um julgamento que teve início em outubro de 2020. Se ele for condenado, poderá pegar prisão perpétua.
Dois dos 26 julgados à revelia pelo assassinato são ex-assessores do príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman. Nenhuma autoridade saudita jamais enfrentou pessoalmente a Justiça na Turquia pelo caso Khashoggi.
Alotaibi é ainda uma das 17 pessoas que o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos sancionou em 2018 por seu papel no assassinato.
Se sua identidade for confirmada como um dos suspeitos pela morte do jornalista saudita, Alotaibi terá que comparecer diante de promotores franceses.
O suspeito tem o direito de contestar sua extradição para a Turquia. Se o fizer, o Judiciário da França deverá decidir se o mantém na prisão até um pedido formal de extradição pelas autoridades turcas ou se o liberta, sob a condição de não deixar o país europeu.
Normalmente pode demorar semanas até que um tribunal decida se o entrega ou não à Turquia contra sua vontade.
Khashoggi era residente nos Estados Unidos, onde trabalhava como colaborador do jornal americano The Washington Post. Em 2 de outubro de 2018, ele compareceu ao consulado saudita em Istambul para preencher documentos a fim de se casar com sua noiva turca.
Segundo autoridades americanas e turcas, um esquadrão saudita que o aguardava no local o estrangulou e desmembrou seu corpo, que nunca foi recuperado. O jornalista era um crítico da concentração autoritária de poder por Mohammed bin Salman e escreveu vários artigos que denunciavam o príncipe.
Em fevereiro deste ano, o governo americano divulgou um relatório de inteligência sugerindo que Bin Salman, que exerce a função de chefe de governo no reino saudita, estaria por trás da morte do jornalista.
O documento, tornado público pelo governo do presidente Joe Biden, afirma ser altamente improvável que o assassinato de 2018 tenha ocorrido sem o aval do príncipe.
A ação se encaixaria em um padrão adotado por Bin Salman de "apoiar medidas violentas contra dissidentes no exterior", diz o texto. O príncipe saudita, contudo, nunca foi alvo de sanções americanas.
A prisão desta terça-feira ocorre poucos dias depois que o presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu sua decisão de incluir a Arábia Saudita em uma viagem aos Estados do Golfo, dizendo que a visita não significa que ele tenha "esquecido" o caso Khashoggi.
Depois de se encontrar com o príncipe herdeiro saudita, Macron disse ter levantado a questão dos direitos humanos "sem nenhum tabu" e acrescentou que espera ver progressos nas próximas semanas e meses.
Por sua vez, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que a ordem para assassinar Khashoggi veio "dos escalões mais altos" do governo saudita e que o caso gerou tensões entre Ancara e Riad.
Mas Erdogan nunca culpou diretamente o príncipe Bin Salman, e nos últimos meses houve sinais de degelo entre a Turquia e a Arábia Saudita, com o ministro das Relações Exteriores turco visitando Riad no início deste ano em uma tentativa de consertar os laços.