Desde o golpe de 25 de outubro, os ativistas aprenderam a mobilizar-se via SMS, em vez das redes sociais. Mas a meio do dia de hoje deixou de ser possível o envio de mensagens escritas ou simples ligações telefónicas.
As forças de segurança deste país da África Oriental, um dos mais pobres do mundo, reagiram a estes protestos disparando gás lacrimogéneo em várias manifestações.
Testemunhas relataram “ferimentos”, enquanto jornalistas da AFP assistiram ao desmaio de manifestantes após a inalação de gás lacrimogéneo.
Embora não pareça estar à vista qualquer solução política após o último golpe de estado, que interrompeu uma transição que vinha a ser vacilante há meses, Washington enviou um emissário.
Molly Phee, secretária de Estado Adjunta para os Assuntos Africanos, tem vindo a encontrar-se com civis – como o primeiro-ministro, Abdallah Hamdok, ainda em prisão domiciliária – e os militares, em particular o general Burhane, numa tentativa de relançar a transição democrática no Sudão.
Mas o chefe do exército não parece prever um regresso ao passado, tendo-se reelegido recentemente como chefe da mais alta instituição da transição, o Conselho de Soberania, assim como todos os seus membros militares ou pró-armamento, substituindo apenas quatro membros que favorecem o poder inteiramente civil por outros civis não políticos.
“O povo escolheu civis” gritaram hoje os manifestantes nas ruas, revoltados contra o general Burhane, acusado de ser um apoiante do antigo regime, uma aliança entre os militares e os islamitas no poder há 30 anos.
No país onde mais de 250 manifestantes morreram na revolta que derrubou Omar al-Bashir, em 2019, outras 24 pessoas foram mortas, incluindo três adolescentes, desde o golpe militar de outubro, observa a Unicef, preocupada com o uso “excessivo” da força contra manifestantes pacíficos.
O general Burhane, por seu lado, continua a prometer eleições em 2023 e assegura que só agiu para “corrigir a trajetória da revolução”, conforme disse na terça-feira Molly Phee.