“Temos a expectativa de que os países desenvolvidos garantam 100 mil milhões de dólares [86,2 mil milhões de euros] por ano em financiamento climático a partir de 2020, e também esperamos, além disso, que um compromisso seja alcançado, já que as necessidades de financiamento climático excedem, de longe, os níveis atuais, e no que diz respeito a África, as estimativas apontam para que sejam precisos 3 biliões de dólares [2,5 biliões de euros] até 2030”, disse Al Hamdou Dorsouma em entrevista à Lusa.
“É preciso uma nova e ambiciosa meta de financiamento climático, que responda às necessidades” dos países, nomeadamente as Contribuições Nacionalmente Determinadas ao abrigo do Acordo de Paris, ou seja, o que cada país se comprometeu a fazer em Paris há seis anos.
“Só no que diz respeito à adaptação, prevê-se que África precise de 331 mil milhões de dólares [285 mil milhões de euros] até 2030, e para a mitigação dos efeitos climáticos as necessidades são de 50 a 95 mil milhões de dólares [43 a 81 mil milhões de euros] por ano”, disse o responsável.
Na entrevista à Lusa a partir de Glasgow, onde é um dos representantes do BAD na 26.ª conferência do clima das Nações Unidas (COP26), Al Hamdou Dorsouma disse ainda que a próxima conferência deverá acontecer em África, no Egito, e apontou que “o Reino Unido pode desempenhar um papel importante numa transição suave e na garantia de que a COP27 seja um sucesso”.
O BAD está em Glasgow representado ao mais alto nível, pelo presidente, Akinwumi Adesina, que tem vincado a mensagem de que o continente precisa de ajuda, porque apesar de ser o menor produtor de gases com efeito de estufa, é o mais prejudicado.
“O banco pretende amplificar a mensagem sobre as alterações climáticas, garantindo que as preocupações e prioridades estão refletidas nos resultados e nas decisões da COP26”, disse Al Hamdou Dorsouma.
Para além disso, acrescentou, um dos objetivos da participação nesta reunião global é divulgar o Programa de Aceleração da Adaptação em África (AAAP, na sigla em inglês) e “melhorar as parcerias estratégicas com entidades nacionais, organizações regionais e instituições globais para a mobilização de recursos e implementação eficaz de ação climática no continente”.
Do ponto de vista financeiro, uma das metas é conseguir mais financiamento para a adaptação e mitigação do continente ao impacto das alterações climáticas.
“O Banco espera novos compromissos por parte dos doadores relativamente ao AAAP e quer concluir financiamentos importantes para programas críticos, como os 150 milhões de dólares [129 mil milhões de euros] do Fundo Climático Verde para a iniciativa ‘Do Deserto à Energia’, e mais 100 milhões de dólares da Fundação Rockefeller para apoiar uma transição energética descentralizada, para além de novas contribuições esperadas, como 100 milhões de euros da Alemanha, 30 milhões de dólares [25,8 milhões de euros] da Suécia e 100 milhões de coroas [13,5 milhões de euros] da Dinamarca”, concluiu.
Decisores políticos e milhares de especialistas e ativistas reúnem-se até sexta-feira na COP26 para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030 e aumentar o financiamento para ajudar países afetados a enfrentar a crise climática.
A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.
Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.