Uma unidade do Exército da Guiné assumiu neste domingo (05/09) o controle da televisão estatal e um coronel declarou que o governo do país, presidido por Alpha Conde, havia sido dissolvido, após horas de intensa troca de tiros na região do palácio presidencial.
O coronel Mamadi Doumbouya, que fez o pronunciamento, não fez menção direta ao presidente, cujo paradeiro ainda não foi confirmado. Outro militar, porém, afirmou que Conde havia sido detido.
Vídeos compartilhados em redes sociais, cuja autenticidade não pôde ser ainda confirmada, mostram o presidente de 83 anos em uma sala cercado por soldados de uma unidade de elite do Exército.
Conde está no cargo desde 2010 e havia sido reeleito para um terceiro mandato em 2020, após a controversa aprovação de uma emenda à Constituição e protestos violentos.
"A personificação da vida política acabou. Não vamos mais confiar a política para um homem, vamos confiá-la ao povo", afirmou Doumbouya, acrescentando que a Constituição também seria dissolvida e que as fronteiras áreas e terrestres seriam fechadas por uma semana.
Comandante de uma unidade de elite do Exército, Doumbouya disse que estava agindo no interesse da nação, que tem 12,7 milhões de habitantes. "O dever de um soldado é salvar o país", afirmou.
A sequência dos fatos em Conacri, capital do país, reúne diversos sinais de um golpe de Estado. Depois de tomar o controle da televisão, os militares rebeldes prometeram restaurar a democracia e instituíram um Comitê Nacional de Assembleia e Desenvolvimento. Veículos militares também patrulhavam as ruas da cidade.
Alpha Conde assumiu o poder em 2010, na primeira eleição democrática da Guiné após a independência da França
Uma forte troca de tiros ocorreu no início da manhã de domingo perto ao palácio presidencial, que se prolongou por horas. Mais tarde, o ministro da Defesa disse que o ataque havia sido repelido.
"A guarda presidencial, apoiada pelos leais, a defesa republicana e as forças de segurança, conteve a ameaça e repeliu o grupo de agressores", ele disse em um comunicado. "Operações de segurança e varredura continuam para reestabelecer ordem e paz."
Mas a incerteza cresceu após Conde não aparecer na televisão ou no rádio. Segundo uma fonte militar, a única ponte conectando o continente ao bairro Kaloum, onde fica o palácio governamental e a maioria dos ministérios, havia sido bloqueada, e muitos soldados, alguns fortemente armados, estavam em volta do palácio.
Conde vinha enfrentando críticas crescentes desde que se lançou a um terceiro mandato em 2020. Ele foi reeleito, mas dezenas de pessoas foram mortas e centenas foram presas durante protestos que questionavam a legitimidade da sua reeleição.
Seu maior opositor, Cellou Dalein Diallo, e outros líderes da oposição disseram que a eleição havia sido uma fraude.
Conde assumiu o poder em 2010, na primeira eleição democrática da Guiné desde sua independência da França, em 1958. Muitos viram sua presidência como um novo começo para o país, que teve décadas de governos corruptos e autoritários. Seus opositores, porém, disseram que Conde falhou em melhorar a vida da população, que em sua maioria viva na pobreza.