Uma política externa voltada também à valorização do interior do país, com vistas ao desenvolvimento regional e ao combate às desigualdades. Foi o que defendeu a presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), senadora Kátia Abreu (PP-TO), nesta quinta-feira (2), em audiência pública que discutiu estratégias para expandir a gastronomia nacional. O tema é um dos eixos estruturantes do plano de trabalho do colegiado para o período 2020-2021 e compreende uma série de debates sobre as cinco regiões do Brasil, com foco na internacionalização de setores da economia criativa e aproveitamento das potencialidades locais.
Kátia Abreu citou dados da Federação das Indústrias do Rio de Janeiros (Firjan), em 2018, segundo os quais a participação da indústria criativa no PIB do Brasil foi de 2,6%, gerando 837.206 empregos formais, o que equivale a 1,8% de toda a mão-de-obra nacional. A senadora observou que a pandemia de coronavírus resultou em grave impacto econômico sobre o setor, que teve perda de 458 mil postos de trabalho só em 2020. E falou que as autoridades precisam estar atentas à recuperação dessa cadeia e às necessidades das populações cujo sustento depende dos principais biomas do país.
Para Kátia Abreu, as novas políticas de desenvolvimento precisam propor “soluções inovadoras que compatibilizem proteção do meio ambiente com utilização inteligente da biodiversidade” e que promovam a melhoria das condições de vida e de trabalho das populações dessas localidades.
— Depois de um ano de bloqueios induzidos pela pandemia, não poderia haver melhor momento para valorizar a economia criativa como vetor do desenvolvimento sustentável regional, por meio de sua internacionalização. De 2019 a 2020, a participação do turismo no PIB nacional caiu 32,6%, passando de US$ 115,7 bilhões (7,7%) para US$ 78 bilhões (5,5%), havendo acompanhado tendência mundial no setor, cuja média global de queda foi de 49,1% — pontuou.
Eleito chef do ano pelo Guia Quatro Rodas em 2006, Alex Atala sugeriu que a sociedade dedique tempo e investimento para conhecer outras línguas, sabores, hábitos e culturas, com vistas a “dedicar pelo menos um terço desse saber no Brasil”. O especialista considerou que investir em cidadania ajuda a gerar valor sobre os alimentos, além de valorizar quem o produz. E apontou o cuidado com o meio ambiente e com o homem como fatores fundamentais para o crescimento da gastronomia nacional.
— Mais brasileiros conhecem Miami [nos Estados Unidos] do que conhecem Manaus [no Amazonas]. É importante lembrar que cuidar da Amazônia não é só proteger o rio ou a floresta: é proteger o homem que vive dela. E a gastronomia pode ser uma ferramenta genial de auxílio e uma alavanca socioambiental dos povos originários. Grandes figuras deste mundo com quem tive a chance de estar me pediram para realizar o maior luxo da vida deles, que é poder passar dias numa tribo indígena — afirmou Atala.
Diretor técnico do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de Alagoas e ex-ministro do Turismo, Vinicius Lages lembrou que a gastronomia é definida pela Unesco como um dos patrimônios imateriais da humanidade e que a Constituição Federal reconhece esses festivais e saberes culinários como ativos culturais. Ao elogiar a agenda da CRE, o debatedor ressaltou o desafio do país “para ser descoberto por ele mesmo”. E disse que o desenvolvimento do país requer investimentos em educação, cultura e valorização da identidade nacional, além do estabelecimento de metas de longo prazo, come melhoria da coordenação entre todos os atores, especialmente os do setor privado.
— Se continuarmos sendo exóticos sobre nós mesmos e não nos conhecermos, não teremos condição de nos projetarmos diante do mundo de modo coerente. Portanto, essa agenda que integra o país busca superar desigualdades, passando pelas relações exteriores. Eu parabenizo [a comissão] também por isso e estou seguro de que sairemos desse debate com um bom encaminhamento para o futuro.
O presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Augusto Pestana, defendeu a criação de programas que tragam jornalistas especializados e influenciadores estrangeiros para conhecerem as culturas tradicionais brasileiras, bem como “um plano ambicioso de promoção da gastronomia” inspirado em países como Espanha, França e Japão. Ele sugeriu também o fortalecimento das parcerias entre órgãos como o Itamaraty, Ministério da Agricultura, Embrapa e Sebrae “aproveitando o momento de retomada da economia no cenário pós-pandemia”.
Kátia Abreu informou que a comissão vai realizar um estudo sobre as rotas turísticas da Amazônia partindo inicialmente da Europa, com vistas à divulgação da região no âmbito internacional. A senadora apontou ações como a busca de linhas de crédito para incentivo ao turismo regional, a criação de consultorias para empresas do setor e também disse ter a ideia de sugerir, junto ao governo e à iniciativa privada, a criação de um parque temático dentro da Amazônia, possibilitando o acesso aos saberes gastronômicos e sobre a fauna e a flora locais.
Durante a reunião, os participantes degustaram iguarias regionais do Norte como empadinha de carne de sol com purê de banana da terra e ceviche de pirarucu assado na palha de banana ao leite de coco de babaçu e cajuzinho do cerrado. Após a audiência pública, parlamentares e debatedores seguiram para um encontro gastronômico com outras comidas típicas da Região Norte no Restaurante dos Senadores, a convite de Kátia Abreu.
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