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Mesmo com casas próprias, haitianos dormem na rua com medo de novos tremores

Homens se revezam para dormir e manter as mulheres seguras, já que há muitos relatos de estupros e abusos sexuais 

Redação
Por: Redação Fonte: R7 - Por Luís Adono, Catarina Hong e Hugo Costa, da RecordTV
31/08/2021 às 21h35

Nas ruas de terra nada sinalizadas e ao lado de suas casas, com as estruturas comprometidas pelo terremoto que atingiu o Sudoeste do Haiti no último dia 14, moradores de Les Cayes, a terceira maior cidade do país, têm dormido sobre o asfalto após a tragédia natural.

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Eles temem que novas réplicas, que têm ocorrido em média duas vezes por dia na região, possam acontecer enquanto dormem, à noite ou durante a madrugada, podendo ceifar aquilo que ainda conseguem ter: Suas próprias vidas. E para as mulheres é ainda pior.

Com as ruas escuras, casos de violência sexual têm sido citados com frequência pela população. As que são casadas, quando o sol se põe, se preparam para dormir em cadeiras, tendas ou sobre lençóis postos no chão com os filhos. Enquanto isso, os homens se revezam, dormindo sentados, para fazer a segurança da família.

É isso o que relata o eletricista Jean Louis Wilfranc, de 41 anos. "Nós não conseguimos dormir uma noite com sono direto desde que aconteceu [o terremoto]. Nos revezamos entre vizinhos para que nada de mal aconteça", diz. Sua principal ambição de vida, para o momento, é conseguir uma doação de barraca.

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A casa de Wilfranc, onde ele relata viver desde que nasceu, está com várias fissuras. Algumas vigas chegaram a entornar. É a segunda vez que um terremoto causou avarias em sua residência. "Desta vez foi pior. Da outra vez, consegui fazer pequenos reparos. Agora, não sei o que vou fazer", afirma.

"Agora, pergunto para você: Qual a diferença entre nós aqui e um animal? Eu pergunto para você. Não tem diferença. Estamos na rua, expostos a todos os perigos, expostos a bichos, estamos vivendo como animais"

Jean Wilfranc, 41

Ao perceber que seu vizinho era entrevistado, o administrador de empresas Darbuze Jean Horl, de 42 anos, se aproxima e desabafa. "Eu vivo aqui com minha mulher e dois filhos. Imagina você ver seus filhos e sua mulher dormindo na rua. Isso me toca como humano. Me falta dignidade humana. A gente não gostaria de estar nessas condições, mas é a vida", diz.

Conforme o horário vai avançando e a noite começa a se aproximar da madrugada, as esquinas da cidade passam a ter várias barricadas formadas com entulho. Os bloqueios são feitos pelos próprios moradores, para que diminuam os riscos de atropelamento da população que dorme sobre o asfalto.

A tragédia atingou até mesmo aqueles que têm uma condição social um pouco melhor. Frantz Gregoire, de 55 anos, afirma ter estudado administração de empresas na Universidade de Massachussetts, nos EUA, e ter servido à Marinha norte-americana entre os anos de 1985 e de 1989.

Morador de um apartamento em um edifício de dois andares ao lado situado ao lado do mar, ele já começou a reconstruir as estruturas danificadas pelo tremor e suas réplicas. Enquanto sua casa continua insegura para se viver, criou uma pequena ocupação na esquina onde vive.

Duas tendas espaçosas foram colocadas no meio da rua. Sobre elas, uma lona azul foi colocada, para evitar que o sol, durante a tarde, gere incômodo. À noite, enquanto as mulheres e as crianças dormem, os homens colocam cadeiras em frente à televisão e assistem uma novela coreana. Diferentemente da programação televisiva da tarde, que costuma mostrar programas esportivos.

"Eu continuo aqui, não vou embora daqui, é o meu lugar"

Frantz Gregoire, 55

O assunto interessa muito a Gregoire. Afinal, além de administrador, ele também é presidente da liga de futebol de Les Cayes. Com inglês fluente, ele afirma que sempre volta para os EUA, mas que se mantém residente no Haiti por amar o país e, principalmente, a cidade de Les Cayes.

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