A autoridade que regula o ciberespaço chinês proibiu qualquer rede social ou site na internet do país de manter online rankings de celebridades de acordo com a popularidade dos artistas. A medida é um desdobramento da operação iniciada em maio pelo governo da China, que está decidido a reprimir o culto a celebridades no país, conhecido como fan quan.
De acordo com a mídia estatal, só podem ser publicadas listas que classifiquem obras como músicas, filmes e programas de TV, mas devem reduzir a ênfase em gostos e comentários e, em vez disso, “aumentar o peso de indicadores como orientação para o trabalho e avaliação profissional”.
Recentemente a rede social Weibo, similar ao Twitter, havia extinguido o ranking de famosos que mantinha na plataforma, indicando os que tinham mais seguidores. A medida foi tomada após críticas publicadas em jornal do governo chinês.
O culto a celebridades na China é voraz e gerou distúrbios da magnitude do tamanho da população chinesa, com fãs dispostos a tudo para manter seus astros preferidos no topo de rankings, promoções e atrações de entretenimento com qualquer fundo competitivo.
Em maio, por exemplo, uma campanha enfureceu autoridades que pressionavam por uma redução do desperdício de alimentos em todo o país. Fãs de um programa de ídolos compraram milhões de dólares em laticínios ao longo de meses para escanear um código impresso na embalagem, que registraria um voto para seu concorrente favorito.
Grupos de fãs fizeram campanhas e arrecadaram dinheiro para comprar produtos a granel e votar em massa. A mídia chinesa relatou que grande parte do conteúdo foi desperdiçado ou despejado no esgoto, fato publicado em vídeos na internet.
A comissão formada para a “operação fan quan” afirmou em junho que as crianças estavam sendo induzidas a contribuir para campanhas de arrecadação de fundos ou de votação para celebridades em programas de competição, que nas comunidades de fãs ocorriam abusos verbais, intimidação, assédio e doxing (quando uma pessoa tem dados pessoais revelados contra sua vontade).
As autoridades chinesas manifestaram ainda preocupação com o comportamento que, na visão dos reguladores, as pessoas estavam sendo incentivadas a exibir riqueza e extravagância, além do fato de a opinião pública estar sendo manipulada por robôs online ou tendências artificiais de mídia social planejadas para “bombar” o perfil das celebridades.
Em outros flancos, o governo chinês vem sufocando meios de disseminação de cultura pop na sociedade, principalmente focado na juventude da China. Empresas de games, redes sociais e até karaokês foram alvos de intervenções e críticas públicas na mídia estatal, o que funciona como intimidação política e também financeira, como no caso da gigante dos games Tencent, gerando queda no preço de ações.
Estrelas de TV e sites de streaming têm sido punidos publicamente, como o caso do ator Zhang Zehan, que perdeu contratos de publicidade e foi excluído da série de streaming Word of Honor após visitar um santuário japonês considerado ofensivo pelos chineses, por homenagear heróis de guerra do Japão.
Zhang pediu desculpas online por sua ignorância, mas isso não impediu o “cancelamento” perante a opinião pública e o encerramento de suas parcerias comerciais. A própria Associação Chinesa de Artes Cênicas instou a indústria a banir Zhang, que também é cantor e teve músicas apagadas de plataformas digitais.
Na sexta-feira (20/8), os reguladores anunciaram que a atriz chinesa Zheng Shuang foi multada em quase US$ 46 milhões (R$ 239,6 milhões) por sonegação de impostos e proibida de ser convidada para programas de entretenimento.
A atriz e embaixadora da marca Fendi, Zhao Wei, teve seu nome removido de todas as obras nas principais plataformas de entretenimento, incluindo o popular programa de TV chinês My Fair Princess, em um cancelamento ainda não esclarecido. Nesta segunda-feira (30/8), a mídia britânica publicou que a atriz “fugiu” para o Chatêau Monlot, uma de suas quatro propriedades produtoras de vinho na França.
No caso do Weibo, a plataforma decidiu remover sua lista de celebridades mais “bombásticas” após o jornal estatal People’s Daily publicar críticas ao “apoio irracional” que fãs estariam dando a pessoas “não dignas de valor”.
O WeChat, aplicativo similar ao WhatsApp, está sendo processado por procuradores públicos, que afirma que o modo “youth” (juventude, em inglês), que limita o acesso de menores de idade à totalidade de funcionalidades do aplicativo, não protege as crianças chinesas.
A China anunciou ainda que estabelecerá uma lista de canções de karaokê com “conteúdo ilegal” a partir de 1º de outubro, de acordo com o Ministério da Cultura e Turismo.
Sem especificar o que exatamente torna uma música passível de censura, o ministério disse que o conteúdo proibido incluiria aquele que põe em risco a unidade nacional, a soberania ou a integridade territorial, viola as políticas religiosas do Estado ao propagar seitas ou superstições, ou que incentiva atividades ilegais como jogos de azar e drogas.