A Comissão de Relações Exteriores do Senado (CRE) promoveu nesta quinta-feira (26) um encontro virtual entre parlamentares da América do Sul para discutir as perspectivas de integração econômica no continente. A presidente da CRE, senadora Kátia Abreu (PP-TO), avaliou o encontro como uma oportunidade para os parlamentos sul-americanos tomarem a liderança na união entre os países.
— Sei que essa é a função dos governos, mas tenho a convicção de que, comprometidos, podemos, por meio dos parlamentos, fortalecer essa união em vários aspectos. Somos uma região invejada pelo mundo, temos que unir nossas forças.
Os parlamentares que participaram do encontro são presidentes ou membros de comissões equivalentes à CRE nos parlamentos de seus respectivos países. Estiveram presentes congressistas de Equador, Peru, Suriname e Venezuela (países onde o parlamento é unicameral) e senadores de Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai. Representantes de Bolívia, Colômbia e Guiana, embora confirmados, não conseguiram participar da reunião por problemas de conexão.
A carência de mecanismos de integração foi uma preocupação expressada pelos convidados. O senador uruguaio Eduardo Bonomi destacou que existem agendas de projetos comuns entre os países, especialmente na área de infraestrutura, mas muitos deles estão paralisados.
Já Jorge Pizarro, que é vice-presidente do Senado do Chile, lamentou dificuldades de organização que levam a “frustrações” nos esforços multilaterais.
— Infelizmente o tema da integração está debilitado. Não temos instâncias inter-regionais que tenham eficácia em suas ações. Os organismos internacionais têm muitas dificuldades.
A cooperação econômica entre os países sul-americanos foi o ponto de maior concordância. A senadora Kátia Abreu citou projetos internacionais em andamento — como o corredor ferroviário bioceânico, ligando o Atlântico na costa brasileira ao Pacífico na costa chilena — e destacou a capacidade agropecuária da América do Sul. Para ela, os países do continente têm o potencial de constituir uma “Opep dos alimentos” (uma referência à Organização dos Países Produtores de Petróleo).
— Somos o celeiro do mundo. Nossa região tem água e terra em abundância. Por isso estão sempre prevendo que vamos ajudar o resto o mundo. Podemos aumentar a nossa produção exportada de alimentos? Vamos conseguir? Como vamos fazer? — questionou ela.
A senadora fez referência a uma estimativa da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) que previu uma expansão de 31% na produção alimentícia da América do Sul nos próximos dez anos. Os parlamentares discutiram formas de concretizar essa estimativa e de alcançar um número ainda maior de mercados mundiais.
Para o senador argentino Adolfo Rodríguez Saá — que foi presidente interino da Argentina em 2001 — a chave está no fortalecimento do Mercosul e na finalização de acordos comerciais que estão sendo negociados. Ele observou que esses acordos, se sacramentados, facilitarão os negócios do bloco com um número de países que perfazem 30% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e reúnem mais de 2 bilhões de habitantes. O mais importante desses acordos envolve a União Europeia.
— Para potencializar as oportunidades das nossas exportações e a nossa inserção na cadeia mundial, a infraestrutura cumpre papel de grande relevância.
A senadora Kátia Abreu mencionou também a possibilidade de usar o Novo Banco de Desenvolvimento, ligado ao bloco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), para atrair investimentos para a América do Sul. Esse banco não pode emprestar para países que não compõem o bloco, mas, segundo ela, o Brasil pode ser a ponte para que isso aconteça. O atual presidente da instituição é o brasileiro Marcos Troyjo, ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia.
O congressista equatoriano Juan Fernando Flores trouxe para a reunião o tema da imigração, observando que a comunidade sul-americana é constituída em grande parte por imigrantes. Ele pediu que os países enfrentem com “franqueza” os assuntos de instabilidade política na região e trabalhem para garantir passagem segura através de suas fronteiras para todos os cidadãos. No parlamento do Equador, a comissão responsável pelas relações internacionais também inclui o tema “mobilidade humana”.
Kátia Abreu concordou com a importância do tema, ressaltando que os investimentos “se afastam” de onde há instabilidade política.
Na mesma discussão, o congressista peruano Ernesto Bustamante defendeu a convivência harmônica entre os países com o fortalecimento das soberanias nacionais. Ele pontuou que os países sul-americanos precisam se posicionar “com firmeza” pela democracia e pelos direitos humanos e disse que alguns regimes atuais precisam “voltar para o respeito à vida”.
— Há ideologias autoritárias que pretendem estender [aos outros países] estilos de governo que não respeitam as práticas democráticas.