A produção de carne com emissões cada vez mais baixas de carbono passa pela transformação do pasto, segundo o professor de Agronegócio Global Marcos Jank, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). Ele participou nesta segunda-feira (23) do debate “Proteína animal: pilar das exportações do Brasil”, promovido pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado (CRE). Essa audiência faz parte do ciclo de debates “Agronegócio sustentável: a imagem real do Brasil”.
Segundo o professor, a maior parte do crescimento da agricultura não é em direção às áreas de floresta, mas sim às áreas de pastagens. Ele citou dados de 2010 da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Os números mostram, segundo ele, que 33% das pastagens estão em boas condições e 10% funcionam em integração com a agricultura, mas a maior parte, 57%, está em situação de degradação severa (26%) ou leve a média (31%).
— O grande potencial que o Brasil tem hoje, a grande transformação, é a transformação do pasto. É onde a gente tem que concentrar toda a nossa atenção, em como a gente vai melhorar a qualidade do pasto para a pecuária e usar uma parte desse pasto para fazer uma agricultura integrada com a pecuária. É a grande transformação dessa década — afirmou o palestrante.
Jank ainda citou estimativas, também provenientes da Embrapa, que apontariam que as emissões de carbono caem expressivamente de acordo com a situação das pastagens. As emissões são significativamente maiores em pastagens degradadas e são reduzidas em pastagens estáveis e no confinamento, mas é em pastagens bem manejadas e em sistemas integrados que a queda é maior.
— É possível, sim, produzir carne de carbono neutro a partir de sistemas de pastagens bem manejadas e, principalmente, sistemas integrados lavoura-pecuária-florestas. Essa estimativa feita pela Embrapa mostra o quanto a tecnologia pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa — ressaltou.
O professor também afirmou que é preciso enxergar a situação de quem critica um possível aumento no consumo de carne. Para explicar a questão, ele afirmou que os países que têm maior crescimento populacional estão na África e no sul da Ásia, regiões em que há, segundo ele, o consumo mais baixo de proteína animal. De acordo com o professor, em muitos países dessa regiões o consumo anual per capita chega a 5 kg, enquanto em países como os Estados Unidos esse consumo fica acima dos 100 kg.
— Uma parte do mundo critica consumo de carne. A gente tem que olhar que isso é muito mais uma questão de países ricos, que já estão consumindo volumes altos, do que de países em desenvolvimento — disse o professor, que apontou um problema ético nas críticas.
Jank afirmou que, em países ricos, uma dieta saudável, que inclui frutas legumes, carne e produtos frescos, custa menos de 10% da renda das famílias. No Brasil, a estimativa de custo está entre 10% e 25%. Já em países mais pobres, esse índice varia de 40% a 170% da renda, o que significa que em muitas áreas é impossível para grande parte das pessoas consumir uma dieta saudável.
— Ou seja: mais de 1,5 bilhão de pessoas no mundo não conseguem consumir dietas saudáveis, com frutas, legumes, lácteos, ovos, carnes e pescados, porque é caro demais para o orçamento das famílias, e é por isso que elas vão para dietas a base de tubérculos, carboidratos, refrigerantes — argumentou o professor, que apontou a capacidade do Brasil de contribuir para o aumento da produção de proteína animal.
O professor também falou sobre as mudanças que ocorreram após a pandemia, com uma maior preocupação com a sanidade animal. Para ele, é preciso cada vez mais estar atento a questões de segurança do alimentos e saúde pública. Entre os principais problemas que precisam ser combatidos estão a comercialização de animais vivos em mercados, a caça de animais silvestres e a falta de aplicação efetiva de legislação sanitária moderna.
Para ele, o Brasil está avançado na área de sanidade animal, com índices muito superiores aos da Ásia, por exemplo. Apesar de ainda haver problemas que precisam ser resolvidos, ele disse que o Brasil não exportaria tanto se não tivesse uma legislação sanitária moderna, controle sanitário e integração entre indústrias e produtores.
O senador Marcos do Val (Podemos-ES), que conduziu a audiência, leu vários questionamentos feitos por internautas por meio do Portal e-Cidadania. Entre as perguntas estava uma sobre o motivo da alta de preços nos alimentos, apesar do aumento de produção.
Para o professor, o fenômeno pode ser explicado por vários fatores, como o aumento na demanda de soja e milho por parte da China e o câmbio, que teve impacto no custo de produção. De acordo com Jank, insumos, sementes, defensivos e máquinas mais caros tornam os produtos mais caros também. O caminho para solucionar o problema, disse o professor, não passa por intervenção do Estado para controlar exportações.
— Na minha opinião, isso se corrige é com mais produção, não com controle da exportação. A solução é: vamos exportar mais e vamos produzir mais e, com isso, equilibrar esses preços que subiram muito no começo do ano — argumentou.
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