No dia 15 de agosto, o Talibã voltou ao poder no Afeganistão e passou a ser o centro dos assuntos internacionais. O grupo extremista assumiu as rédeas do governo após 20 anos da presença de tropas estrangeiras no país e alguns pontos são importantes para entender a situação no país
*Estagiário do R7 sob supervisão de Pablo Marques
Formação do Talibã
O Talibã foi formado no ano de 1994 por estudantes e guerrilheiros do mujahidin, combatentes que eram uma força de resistência contra invasores estrangeiros, principalmente os soviéticos, no contexto do final da Guerra Fria. Uma rápida ascensão fez com que, em 1996, o grupo conseguisse tomar a cidade de Cabul para estabelecer o poder no Afeganistão até 2001
"Nesse período, esse grupo cresce rapidamente, tem um forte apelo popular e ganha ganha preponderância na sociedade afegã para assumir o governo", destaca Gustavo Macedo, pesquisador da USP e professor de Relações Internacionais da FMU
O Talibã aceita pessoas de outras nacionalidades?
De acordo com o especialista, o grupo extremista aceita pessoas de outras nacionalidades mas a maioria dos integrantes são afegãos. "Existe uma relativa resistência para a presença de integrantes estrangeiros porque o talibã surge da luta contra a presença estrangeira no Afeganistão"
Apoio de cidadãos afegãos ao Talibã
Uma parte significativa da população afegã apoia o Talibã e isso acontece porque o grupo sempre agiu em espaços onde há a ausência do Estado afegão, oferecendo muitas vezes serviços básicos para as pessoas, segundo o pesquisador da USP
Há países que apoiam o Talibã?
"China e Rússia, diferentemente dos Estados Unidos e demais aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) , declararam que estão dispostos a negociar com o Talibã como forma de reconhecer a formação de um governo legítimo e estabelecer uma relação pragmática", ressalta Gustavo
O docente da FMU enfatiza que a aproximação desses dois países pode acontecer pelo fato de a China buscar assegurar que o Paquistão seja um corredor de escoamento da sua produção, e da Rússia tentar ampliar a sua influência política e econômica sobre países na região
Talibã x EUA
De acordo com o professor, o Talibã tem uma postura anti-imperialista e muito contrária ao papel que os EUA exercem ao redor do mundo. "Eles veem os norte-americanos como a grande potência que desrespeita o islamismo"
Além disso, mesmo não tendo realizado ações diretas nos atentados de 11 de setembro de 2001, o grupo extremista ajudou e protegeu membros da Al Qaeda em território afegão, um dos fatores que levaram os EUA a invadirem o país há 10 anos para tirar o Talibã do poder
Por que é considerado um grupo terrorista?
"Quando você classifica um grupo como terrorista, o primeiro movimento é político, com a intenção de esvaziar a legitimidade desse grupo. Isso porque o terrorismo significa o uso da estratégia do terror para alcançar objetivos particulares, o que pressupõe a ausência de diálogo", ressalta o especialista
Outro fator é o Talibã adotar formas de atuação características do terrorismo, seja por meio do uso de atentados a sedes oficiais do governo afegão ou pela maneira hostil e intolerante como trata grande parte da sua população civil
Como a população afegã pode ser afetada pelo poder do Talibã
O maior medo da população do Afeganistão é de que o grupo reproduza o que foi feito entre 1996 e 2001, com a ausência de direito para as mulheres e um tratamento extremista contra as expressões políticas e culturais que eles entendam que desafie a interpretação deles do Alcorão
"Eles não realizam negociações a nível político e a nível social impõem uma gaiola de ferro absurdamente restrita em questões como homossexualidade e algumas bandeiras de igualdade social", enfatiza Gustavo Macedo