Toofan Omar, gerente da estação de rádio Paktia Ghag, era uma figura importante na luta pela liberdade e direitos de imprensa. Ele foi morto a tiros por homens armados na capital no domingo.
No mesmo dia, na província de Helmand, no sul, autoridades afirmam que extremistas sequestraram Nematullah Hemat em sua casa, em Lashkar Gah, a capital da região.
Os casos aconteceram dois dias depois de o Talibã assassinar o diretor do Centro de Mídia e Informações do Afeganistão, órgão da Presidência, Dawa Khan Menapal foi morto a tiros quando deixava uma mesquita em seu carro na capital afegã, Cabul.
Menapal frequentemente criticava o movimento fundamentalista. O Talibã disse que ele foi “punido por seus atos”.
Os governos do Reino Unido e dos Estados Unidos (EUA) vêm sendo pressionados a dar refúgio a jornalistas afegãos que ajudaram os correspondentes estrangeiros. Sem a proteção das tropas, eles devem se tornar vulneráveis à violência dos extremistas.
O Reino Unido respondeu a uma solicitação dos órgãos de imprensa e anunciou na sexta-feira (5/8) a retirada de jornalistas e colaboradores afegãos que trabalharam com a mídia britânica.
Em carta aberta endereçada ao primeiro-ministro Boris Johnson e ao secretário de Relações Exteriores, 20 veículos, entre jornais e emissoras tinham destacado a necessidade de garantir a segurança dos repórteres afegãos que ajudaram os correspondentes britânicos: “Há uma necessidade urgente de agir, pois a ameaça às suas vidas já é aguda e está piorando”, diz a carta.
“Se deixados para trás, os jornalistas e funcionários de mídia afegãos que desempenharam um papel tão vital informando o público britânico ao trabalhar para a mídia do Reino Unido correrão o risco de perseguição, danos físicos, encarceramento, tortura ou morte”, destacam os órgãos de imprensa.
A coalizão de veículos incluiu as emissoras Sky e ITN e alguns dos principais jornais britânicos: The Guardian, Times , Financial Times, Daily Mail e Sun, e a revista The Economist.
A decisão segue outra iniciativa similar, que resgatou intérpretes que trabalharam com as Forças Armadas britânicas na ocupação. Na última quinta-feira (5/8), um avião com 104 pessoas, entre intérpretes e suas famílias, aterrissou na região de Midlands, Inglaterra.
Na resposta às organizações de mídia do Reino Unido, o secretário de Relações Exteriores, Dominic Raab, disse que os casos dos colaboradores afegãos da imprensa seriam considerados “em caráter excepcional”, para aqueles em perigo iminente.
“Sua carta [numa menção ao requerimento da imprensa] destacou a ameaça enfrentada por funcionários afegãos que trabalharam para suas organizações de mídia no Afeganistão, em particular o risco de represálias que enfrentam do Talibã por sua associação com o Reino Unido”, afirmou o chanceler britânico ao incluir jornalistas e colaboradores na lista de candidatos a asilo.
Há duas semanas, o fotógrafo indiano Danish Siddiqui foi morto em confronto entre forças do governo e o Talibã. Fotojornalista veterano, ele foi membro da equipe da Reuters que ganhou o Prêmio Pulitzer em 2018 por suas imagens da crise Rohingya em Mianmar.
Em julho, após a morte de Siddiqui, veículos americanos lideraram uma iniciativa semelhante , pressionando o presidente Joe Biden a incluir colaboradores afegãos da mídia no Programa Especial de Vistos de Imigração. New York Times, BuzzFeed, CNN e Fox News estão entre as 21 empresas que assinaram o documento.
O Afeganistão foi invadido por tropas americanas e aliados em 2001, logo após os atentados que derrubaram as Torres Gêmeas em Nova York. A data pra a retirada das tropas marca 20 anos do ataque.
Com a retirada das tropas americanas do país prevista para 11/9, o grupo extremista vem intensificando ataques em regiões de fronteira e também subindo o tom de ameaças à imprensa.
No mês passado, o NAI, grupo de apoio à mídia independente no país, informou que pelo menos 30 jornalistas e funcionários da mídia foram mortos, feridos ou sequestrados por grupos paramilitares no Afeganistão este ano.
Nos últimos dias, cerca de 200 intérpretes afegãos e suas famílias chegaram aos Estados Unidos, os primeiros de um grupo de 2.500 afegãos que estão sendo evacuados conforme o avanço do Talibã no Afeganistão.
Os intérpretes estão sendo reassentados sob um programa de visto para aqueles que trabalharam e ajudaram os EUA durante a guerra de 20 anos contra o Talibã. Os colaboradores afegãos serão transportados para instalações militares americanas, nos EUA ou no exterior, enquanto aguardam trâmites burocráticos.
O Senado dos EUA aprovou mais de US$ 1 bilhão para financiar a operação, incluindo moradia e transporte dos asilados. Segundo o projeto No One Left Behind, ao menos 300 afegãos foram mortos por trabalharem com os EUA no Afeganistão.