Apesar de batizar o 19 de julho como “Dia da Liberdade” (Freedom Day), o Reino Unido está longe de viver paz e tranquilidade em relação à Covid-19. O aliviamento das restrições impostas pela pandemia, especialmente o uso de máscaras, vem sendo debatido nas últimas semanas em clima de guerra cultural.
Na sessão semanal em que o primeiro-ministro é sabatinado pelo Parlamento, que começou ao meio-dia (horário local) desta quarta-feira (21), o líder da oposição, Keir Starmer, tachou Johnson de “super-spreader” (super-disseminador) da confusão, um apelido que imediatamente passou a ser compartilhado pelas redes sociais.
Um dos motivos das incertezas no processo de retomada à normalidade no país é a posição “em cima do muro” quanto ao uso de máscaras. Ao mesmo tempo em que deixaram de ser obrigatórias, continuam sendo “recomendadas” pelo governo, que adotou a política de contar com o bom senso individual.
Outra razão é o sistema de alerta que já notificou mais de meio milhão de pessoas que tiveram contato com portadores de Covid-19 pedindo para se isolarem, incluindo Boris Johnson. Na sessão de hoje, ele pediu de desculpas às empresas pela chamada “pingdemia”, que ameaça o funcionamento de serviços.
O debate sobre a exigência de um “passaporte da vacina” àqueles que desejarem frequentar clubes noturnos a partir de outubro é outra polêmica que divide o país.
Segundo a organização First Draft de checagem de fatos, o tema tem gerado a circulação de desinformação nas redes sociais, especialmente entre os britânicos. Em meio à revolta, a hashtag #NightClubs viralizou no Twitter. De fato a ampliação da exigência de “passaportes” em outros locais é discutida, mas até agora as boates são o único local citado pelo governo.
Um post da apresentadora Julia Hartley-Brewer, da talkRADIO, que recebeu pelo menos 28.800 visualizações no Twitter, declarou que os passaportes de vacina para boates representariam um “apartheid médico” no Reino Unido.
A expressão vem sendo usada no país desde antes do “Dia da Liberdade”, sempre associada a qualquer espécie de identificação que possa distinguir pessoas vacinadas e não vacinadas.
Posts circulam alegando que as vacinas contra a Covid-19 são “experimentais” e que os jovens estavam sendo coagidos a tomá-las, com o advento do “passaporte”. Uma petição contra a adoção do documento já conta com mais de 100 mil assinaturas.
A First Draft destacou que cientistas estão alertando sobre os riscos da reabertura de boates e outros locais com grande presença de público, que podem gerar grandes picos de contaminação, levando em consideração que o Reino Unido teve aumento no número de casos e internações recentemente.
Neil Clark, que a First Draft considera um assíduo compartilhador de fake news e antilockdown, fez um post no Twitter com mais de 1.200 interações no qual afirmava, sem evidências, que o governo britânico estaria planejando exigir o passaporte de vacina em todos os lugares, incluindo locais de trabalho.
Outros usuários da rede social também compartilharam posts com conteúdo semelhante, no qual diziam que o governo do Reino Unido estaria “brincando com o público” e que a decisão de Boris Johnson seria apenas o primeiro passo para “certificados de vacina obrigatórios em todos os cenários”.
O príncipe Charles, herdeiro do trono britânico, foi notícia no fim de semana ao avisar com antecedência que compareceria a um evento público sem máscara, após o governo desobrigar o uso do acessório de proteção.
O jornal Daily Mail, citando “uma fonte palaciana”, afirmou que o pensamento da mornaquia no momento é “olhar para a frente, não a trás”.
“Esta será a primeira vez em 18 meses que estamos vendo um retorno à normalidade. É a primeira vez que o príncipe vai a um local interno e não estará usando máscara, pois é uma grande área onde as pessoas estarão em distanciamento social e será o primeiro dia das novas regras”, afirmou a fonte ao Mail.
“Quando as regras determinam que uma máscara deve ser usada, o príncipe a usará, mas não o contrário.”
Com a decisão, o futuro rei vai contra à opinião de uma boa parte dos súditos. Em uma pesquisa do Instituto Ipsos-Mori sobre o Dia da Liberdade publicada no dia 13 de julho, três em cada quatro (73%) disseram que usar máscaras em locais como lojas e transportes públicos é muito importante para impedir a propagação do coronavírus, incluindo 43% que acham que é essencial.